A rotina do cirurgião-dentista exige que o corpo permaneça horas na mesma posição e realize movimentos repetitivos o que, consequentemente, gera um número alto de profissionais que reclamam de dores nas costas, no pescoço, nos ombros e braços. A ergonomia na odontologia às vezes é ignorada ou, em meio de uma rotina corrida, acaba por ficar de lado.
Nos piores quadros, os profissionais da odontologia podem vir a desenvolver Lesões por Esforço Repetitivo (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort) que, de acordo com estudo publicado na Revista Brasileira de Odontologia, atingem vasos, tendões, ligamentos, nervos, articulações e fáscias musculares. A consequência é a perda de força, dor, fadiga no local e alteração muscular, o que prejudica a produtividade do dentista.
Diante dessa situação, neste artigo, vamos falar como ergonomia e odontologia devem caminhar de mãos dadas em prol da saúde de cirurgiões-dentistas. Continue a leitura e confira nossas dicas de alongamentos, postura, organização e produtos que irão melhorar a sua rotina.
A LER/Dort dentro dos consultórios
Segundo o estudo citado, há fatores que aumentam o risco de desenvolvimento de LER/Dort, como os movimentos repetitivos, o uso de aparelhos que não possuem qualquer ergonomia, a postura incorreta ao trabalhar, a força excessiva empregada em procedimentos, o estresse pela rotina do consultório e um condicionamento físico que não está preparado para suportar todas essas necessidades.
Com o tempo, tudo isso acaba por gerar complicações para os cirurgiões-dentistas, sendo as mais comuns:
- Tendinites (inflamação ou lesão do tendão)
- Tenossinovites (inflamação da bainha do tendão na região em que o músculo se conecta com o osso)
- Síndrome do túnel do carpo (dormência e formigamento na mão)
- Bursites (inflamação das bolsas que protegem as articulações)
- Miosites (inflamação do músculo)
Ainda de acordo com o estudo, os dentistas são profissionais que fazem parte de grupos com mais chances de desenvolver essas patologias, já que atuam em uma área exposta a diversos fatores de riscos, que vão desde o ambiente sem ergonomia, até a pressão psicológica que contribui para a ansiedade e o aumento da tensão de músculos.
Primeiros sintomas
Estar atento aos primeiros sintomas de LER/Dort é fundamental para um tratamento precoce, assim como evitar o desenvolvimento das doenças. Portanto, o indicado é que cirurgiões-dentistas conheçam os indícios das patologias para que possam procurar ajuda profissional. São eles:
- Dores nos membros superiores e nos dedos
- Desconforto físico ao fim do expediente
- Dificuldade para mover dedos e membros superiores
- Inflamações ocorrentes
- Dores localizadas
- Inchaço no local
- Paralisia
Uma informação importante é que nem sempre esses sintomas vão significar LER/Dort. Às vezes, eles podem ser indícios de doenças ortopédicas, imunológicas, neurológicas ou distúrbios reumatológicos. Por isso, é essencial que o dentista não demore caso sinta algum desses sinais.
Caso você se identifique com algum sintoma, em primeiro, pause atividades repetitivas, imobilize a área onde sente a dor, faça repouso e procure ajuda médica. E lembre-se: quanto mais tardio o tratamento é iniciado, pior é o diagnóstico.
Ergonomia no consultório odontológico
Como já dissemos, ergonomia e odontologia devem andar de mãos dadas para garantir saúde e produtividade aos dentistas. Portanto, essa prática tem como intuito eliminar qualquer manobra pouco produtiva, gerar conforto e segurança, prevenir doenças e diminuir o estresse dentro do consultório.
Portanto, para trazer a ergonomia ao consultório odontológico, é preciso estar atento a diversos pontos, que vão desde o espaço de trabalho até os instrumentos selecionados para realizar procedimentos.
Para entender melhor, vamos separar essas dicas por tópicos.
Postura ideal para sentar
Esse é um ponto que muitos dentistas pecam. Após horas de trabalho, se não houver um policiamento, a postura estará totalmente incorreta e, consequentemente, o profissional ficará com dores.
A pesquisa “Ergonomia para os mobiliários das salas clínicas dos cirurgiões-dentistas”, por Izabela Perim, explica como os dentistas devem sentar-se para evitar as dores nas costas e outros problemas. Vamos conferir:
- Ao sentar-se na cadeira mocho, suas coxas devem ficar paralelas ao chão, em ângulo de 90º com as pernas. Os pés devem ficar bem apoiados no piso.
- As costas e a região renal devem ficar apoiadas no encosto do mocho odontológico, enquanto a cabeça fica levemente inclinada para baixo.
- A posição do paciente na cadeira mocho deve permitir que a cabeça dele fique no mesmo nível dos seus joelhos.
- Quanto à altura da cadeira, ela deve estar ajustada de forma que uma das pernas do dentista possa ser colocada sob o encosto, mas sem pressão.
- Os cotovelos devem ser mantidos juntos ao corpo ou apoiados em um local que esteja no mesmo nível.
- O cirurgião-dentista deve manter distância de 30 cm da boca do paciente.
- Ao realizar trabalhos na maxila, o cabeçote deve ser posicionado para baixo; para a mandíbula, ele deve ser acomodado para cima.
Iluminação
Se há algo que é fundamental para que os profissionais da odontologia façam um bom trabalho é a iluminação. Ela está presente nas normas de ergonomia NR 17 e interfere diretamente na produtividade.
Caso você esteja se perguntando como a luz poderia estar associada às dores nas costas, é simples: se a iluminação está precária, o cirurgião-dentista precisará se movimentar para encontrar um ponto bom de visão — e ele nem sempre vai ser ergonômico ou confortável.
Quando o ambiente tem uma iluminação adequada, você pode manter uma boa postura e trabalhar tranquilamente, sem qualquer incômodo causado por sombras.
Portanto, vamos relembrar algumas regras da NR 17 sobre iluminação:
- Todos os locais devem ter iluminação adequada, que pode ser natural ou artificial, desde que apropriada para o trabalho realizado.
- A iluminação geral deve ser distribuída de forma uniforme e difusa.
No caso da odontologia, a Anvisa indica que a iluminação seja artificial nos ambientes de atendimento. Ela deve ser projetada de forma que não gere sombras ou ofuscamento.
Tamanho do consultório
Sim, o tamanho do consultório é fundamental para o seu conforto e do auxiliar! Já imaginou trabalhar em um local apertado, onde você sequer consegue movimentar o mocho e todos os móveis ficam aglomerados? Sem dúvidas, ninguém quer isso!
Portanto, o indicado é que, no mínimo, o consultório tenha 9 m² (3×3). Locais espaçosos garantem mais mobilidade e conforto para trabalhar.
Mobiliário no consultório odontológico
Como é a organização da mobília do seu consultório? Você segue uma lógica estética, de praticidade ou ergonômica? Assim como existe um jeito certo de sentar no mocho, a ergonomia no consultório odontológico auxilia a deixar o espaço mais confortável para o trabalho.
De acordo com a International Standards Organization (ISO) e a Federation Dentaire Internacionale (FDI), existem algumas medições que os dentistas podem seguir para garantir o posicionamento correto do mobiliário e, consequentemente, a ergonomia.
Abaixo, separamos uma figura feita pela autora do artigo “Ergonomia para os mobiliários das salas clínicas dos cirurgiões-dentistas”, que explica o gráfico criado pela ISO e FDI, semelhante a um relógio. Vamos entender melhor.
- No eixo, temos a boca do paciente.
- Em torno do eixo, temos traçados três círculos: A, B e C. Entre eles, respectivamente, temos raios de 0,5 m, 1 m, e 1,5 m.
- A divisão do consultório acontece em 12 partes, como um relógio.
Quanto às limitações de cada círculo:
- Em A, temos a zona de transferência. É aqui que devem ficar organizados todos os itens que serão utilizados dentro da boca do paciente, como o equipo. Nessa região, também ficam dois mochos odontológicos: o do dentista e o do auxiliar.
- No círculo B, temos o espaço destinado para a movimentação de braços e abrir gavetas. É aqui que devem ficar mesas auxiliares, gavetas (quando abertas), corpo do equipo e da unidade auxiliar.
- Em C, temos os limites do consultório que, como dissemos anteriormente, deve ter 3 m de largura. Mais do que isso, o espaço deixa de ser ergonômico. Nessa área, ficam os armários fixos.
Alongamentos
Além de entender de ergonomia em odontologia, é importante que os profissionais adicionem em seu expediente uma rotina de alongamentos para prevenir lesões e outras patologias. Em nosso blog, já criamos um conteúdo específico sobre o assunto, portanto, neste artigo, trazemos um vídeo criado pelo canal Mauricio Castello, em que o educador físico Rodrigo Otávio passa algumas dicas rápidas e eficientes.
Dica bônus: cadeira ergonômica
A postura correta é essencial quando falamos em ergonomia na odontologia, por isso ter o assento ideal é importantíssimo.
Cadeira ergonômica Kota
A cadeira Kota é uma ótima solução para quem busca por um modelo confortável para trabalhar no consultório ou em casa.
Ela tem uma estrutura toda em metal e o encosto é de madeira reforçada. Ambas as características contribuem para uma cadeira mais resistente e duradoura.
Quanto aos ajustes, ela oferece a opção de regulagem para a altura do encosto, no movimento de ir para frente e para trás, e também na altura do assento.
Outras características:
- Alavanca de acionamento do pistão para subida e descida
- Assento com encaixe das coxas
- Assento com alavanca para regulagem de inclinação.
Aplicar a ergonomia no consultório odontológico possibilita que cirurgiões-dentistas trabalhem sem que isso cause danos à saúde e atrapalhe a disposição para realizar tarefas da vida pessoal.
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Muito bom conhecimentos nunca é demais ,aula muito produtiva
Olá, Beatriz! Tudo bom?
Ficamos felizes que tenha gostado do artigo.
Agradecemos o seu comentário. Abraços!