Mais de 1 milhão e 600 mil crianças brasileiras têm cárie aos 12 anos de idade. Esse quadro já foi pior há 10 anos, mas ações preventivas mostram que é possível chegar à idade adulta sem cárie. Entre elas está a visita periódica ao cirurgião-dentista, o que pode reduzir em 69% a incidência da doença já entre os pequenos pacientes na faixa etária de 0 a 3 anos. “Com maior rede de atendimento odontológico em todo o País, fluoretação das águas e conscientização em todos os níveis da sociedade pode-se buscar, em um futuro próximo, chegar à saúde bucal ideal, que é manter todos os dentes até o final da vida”, orienta Silvio Cecchetto, presidente da Associação Brasileira de Cirurgiões-dentistas (ABCD). Este é o foco do Dia Mundial da Saúde Bucal 2014, organizada pela Federação Dentária Internacional (FDI) em todo o planeta, e aqui no Brasil desenvolvida pela ABCD.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Brasil, crianças de 18 a 36 meses já têm em média um dente cariado, sendo que no Sudeste a ocorrência de cárie nesta faixa etária varia ente 31% e 39%. Além dos cuidados já conhecidos em higiene bucal (escovação dos dentes após as refeições, uso do fio dental, limpeza da língua e das bochechas), uma alimentação balanceada, com controle de consumo de açúcar, por exemplo, certamente ajuda a conservar a criança (e mesmo o adulto) com uma boa saúde bucal. O acompanhamento profissional também é fundamental, especialmente para as crianças. “Se para os adultos duas visitas anuais ao cirurgião-dentista são suficientes, para as crianças a recomendação pode ser diferente: dobrar o número de visitas ao consultório odontológico pode reduzir em até 69% a incidência de cáries entre os pequenos de 0 a 3 anos. Além disso, durante a consulta o especialista pode orientar os pais para a promoção de hábitos corretos de higiene para eles e para a criança, mesmo bebê”, explica a cariologista Sonia Groisman.
Outros dados apontam que a doença cárie afeta de 60% a 90% das crianças em fase escolar e grande parte dos adultos. Há ainda 3 milhões de idosos entre 65 e 74 anos que necessitam de prótese total ou pelo menos em um dos maxilares e 4 milhões que precisam de prótese dupla.
Embora aos 5 anos de idade mais de 53% das crianças tenham mais de dois dentes de leite cariados, com medidas preventivas elas poderão chegar à idade adulta livres da cárie.
Segundo classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil saiu de uma condição de média prevalência de cárie (2,7 a 4,4 em 2003) para a de baixa prevalência em 2010 (1,2 a 2,6). Mas como identifica a FDI, a vasta extensão do país e a concentração irregular dos 254 mil cirurgiões-dentistas no território nacional ainda desfavorece boa parte da população, principalmente na Região Norte (3,2). O Nordeste tem prevalência de 2,7; o Centro-Oeste, de 2,6; o Sudeste, de 1,7; e o Sul, 2,0.
No mundo
Na África, há 1 cirurgião-dentista para cada 150 mil pessoas. Na Etiópia é um dentista para cada milhão. Cerca de 140 mil pessoas, principalmente na África Subsaariana, América do Sul e Ásia, são afetadas por Noma (cancro oral, não obrigatoriamente comunicável às autoridades), doença desfigurante, mortal mas negligenciada, que afeta principalmente crianças e que é responsável por uma taxa de mortalidade de 80% dos casos. No Brasil, o problema não é a quantidade de cirurgiões-dentistas (254 mil), mas sua distribuição irregular nas várias regiões, com densidades e níveis econômicos variáveis da população.
Escalada contra a cárie
Apesar disso, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, comparados pelo Ministério da Saúde entre 2003 e 2010, a população brasileira passou para um novo patamar de saúde bucal nesse período. Veja os dados:
*Aos 12 anos: declínio de 13% da incidência de cárie entre 2003 e 2010, ou seja, diminuição de 19% na prevalência da doença;
*Número médio de dentes atacados por cárie caiu de 2,8 para 2,1, uma redução de 25%, ou seja, 1 milhão e 600 mil dentes deixaram de ser afetados pela cárie;
*Os adolescentes tiveram 18 milhões a menos de dentes afetados pela cárie;
*Pela classificação adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil saiu de uma condição de média prevalência de cárie (CPO* de 2,7 a 4,4, em 2003) para baixa prevalência (CPO 1,2 a 2,6, em 2010);
Fonte: Jornal Odonto