Dentifrícios: saiba mais e entenda o papel dos dentistas na escolha e recomendação

Creme dental e escova de dentes sobre fundo azul.
Toothpaste in tube and toothbrush on blue background. Dental hygiene concept.

A escolha e o uso corretos de dentifrícios são pontos cruciais para a preservação da saúde dentária e para a qualidade de vida das pessoas. Os dentistas são figuras centrais na orientação sobre práticas de higiene bucal e, sobretudo, na escolha do item mais adequado a cada caso. 

Continue a leitura para conferir mais detalhes sobre o que são os dentifrícios, as diferenças em relação aos cremes dentais, do que são compostos, os tipos e como indicar aos pacientes! 

O que é dentifrício? 

Dentifrício é um agente de limpeza utilizado para promover a higiene bucal. Sua principal função é limpar os dentes, ajudando a remover a placa bacteriana, restos de alimentos e manchas na superfície dos dentes.

Ele é o mesmo produto que o chamado “creme dental”, porém, o dentifrício é mais abrangente, englobando todos os tipos de formulações usadas para este fim, incluindo pastas, géis e opções em pó.  Portanto, enquanto todo creme dental é um dentifrício, nem todo dentifrício é um creme dental se considerarmos outras formulações que não têm uma consistência cremosa. 

Qual é a composição dos dentifrícios?

Muitos dentifrícios contêm ingredientes ativos que ajudam a prevenir problemas de saúde oral, como cárie, gengivite, tártaro e até fortalecer o esmalte dos dentes e diminuir a sensibilidade. Dentre eles estão abrasivos, flúor, detergente, umectante, aromatizante, agentes antissépticos e antibacterianos, agentes de ligação, corantes e conservantes. Veja mais sobre abaixo:

Flúor (0,4 – 1%)

Flúor é um mineral natural que ajuda a fortalecer o esmalte dos dentes. O componente atua no esmalte, tornando os dentes mais resistentes à desmineralização. Dessa forma, ajuda na reparação dos estágios iniciais do dano antes que ele se torne uma cárie. 

Abrasivos (20 – 50%)

Os abrasivos são partículas que auxiliam na remoção de manchas e placas bacterianas dos dentes, sem causar dano ao esmalte ou dentina. São compostos de ingredientes como carbonato de cálcio, sílicas hidratadas ou fosfato de cálcio.

A abrasividade dos dentifrícios é medida pelo índice Relative Dentin Abrasivity (RDA). O valor máximo permitido internacionalmente é 250 RDA, garantindo que a limpeza seja eficaz sem comprometer o esmalte ou a dentina.

É importante destacar que o desgaste dental não ocorre apenas devido aos abrasivos, mas também por fatores como força da escovação, tipo de escova utilizada e consumo de alimentos ácidos.

Detergentes (1 – 3%)

Os detergentes são responsáveis pela formação de espuma durante a escovação, auxiliando na remoção de resíduos e melhorando a dispersão dos agentes ativos. O mais utilizado é o Lauril Sulfato de Sódio (LSS), que possui ação emulsificante e solubilizante. Em altas concentrações, o LSS pode causar sensibilidade em algumas pessoas. Pacientes alérgicos ou sensíveis podem optar por dentifrícios livres dessa substância.

Umectantes  (20 – 40%)

Os umectantes evitam que o dentifrício resseque dentro da embalagem, garantindo uma textura homogênea e facilitando sua aplicação na escova dental. Os principais são:

  • Glicerol;
  • Sorbitol;
  • Propilenoglicol.

Aromatizantes e flavorizantes (1 – 2%)

Aromatizantes são ingredientes que fornecem sabor ao dentifrício, de forma que fique agradável na boca e contribua para uma sensação de frescor e melhor hálito. Por sua vez, os flavorizantes conferem sabor agradável ao produto — no entanto, podem causar sensibilidade em algumas pessoas devido aos óleos aromáticos.

São utilizados óleos essenciais como menta e eucalipto, bem como adoçantes não cariogênicos, como xilitol.

Conservantes (0,05-0,5%)

Os conservantes garantem a estabilidade e durabilidade do produto, impedindo a proliferação de microrganismos. Um exemplo é o P-hidroxibenzoato de metila, essencial em dentifrícios com alto teor de umidade, prevenindo contaminações e garantindo a eficácia dos ingredientes ativos.

Agentes antissépticos e antibacterianos 

São substâncias que combatem as bactérias presentes na placa, prevenindo o estabelecimento de placas, gengivites e mau hálito. 

Agentes de ligação (1 – 2%)

São compostos como a carboximetilcelulose sódica (CMC), responsáveis por manter todos os ingredientes uniformemente distribuídos, evitando a separação dos componentes na embalagem. Eles contribuem para a textura e cremosidade do dentifrício, tornando a aplicação mais fácil e homogênea.

Princípios ativos terapêuticos e preventivos (0,4 – 1%)

Além dos componentes básicos, muitos dentifrícios contêm substâncias terapêuticas que auxiliam na prevenção e tratamento de problemas bucais, como:

  • Zinco e Pirofosfato: ajudam a prevenir a formação de tártaro;
  • Peróxidos: auxiliam no clareamento dental e remoção de manchas;
  • Clorexidina: agente antimicrobiano utilizado para controle da placa bacteriana;
  • Triclosan e Citrato de Zinco: previnem a gengivite e controlam o crescimento bacteriano.

Esses agentes são escolhidos de acordo com a necessidade do paciente e podem ser recomendados por um profissional odontológico, principalmente para tratar as doenças na boca mais comuns.

Quais são os tipos de dentifrícios?

Os dentifrícios disponíveis no mercado são formulados para atender a diferentes necessidades de saúde bucal. É por isso que a escolha do creme dental ideal deve ser feita com base no perfil de cada paciente, considerando fatores como risco de cárie, presença de hipersensibilidade dentinária, tendência à formação de tártaro, inflamações gengivais e condições específicas como xerostomia. Veja os tipos a seguir!

close up of a toothpaste tube on white background

1. Dentifrícios fluoretados 

Os dentifrícios fluoretados são amplamente recomendados devido ao seu papel na prevenção da cárie dentária. O flúor atua na remineralização do esmalte e na redução da desmineralização causada por ácidos bacterianos. Estudos indicam que a concentração mínima eficaz de flúor é de 1000 ppm, sendo essa a recomendação para crianças e adultos.

No Brasil, há opções com concentrações de até 1500 ppm, enquanto pacientes com alto risco de cárie podem ser indicados para formulações de 1000 ppm, sob recomendação profissional. Dentifrícios com abrasivo à base de carbonato de cálcio podem necessitar de maiores concentrações de flúor, pois o abrasivo pode reagir e reduzir a quantidade disponível do mineral na formulação.

2. Dentifrícios para sensibilidade 

Indicado para o tratamento de pacientes com hipersensibilidade dentinária, que pode ser causada pela exposição da dentina devido à retração gengival ou desgaste do esmalte. Esses dentifrícios utilizam dois mecanismos principais para reduzir a sensibilidade:

  • Ação obliteradora: bloqueia os túbulos dentinários expostos, impedindo a transmissão de estímulos externos para a polpa dentária. O cloreto de estrôncio e a arginina são exemplos de substâncias utilizadas nesse mecanismo;
  • Ação neural: interfere na resposta nervosa aos estímulos dolorosos, reduzindo a sensação de dor. O nitrato de potássio é o agente mais comum nesse tipo de formulação.

Avanços recentes incluem a presença de tricálcio fosfato e arginina, que oferecem alívio imediato e proteção prolongada contra a sensibilidade.

3. Dentifrícios branqueadores 

Os dentifrícios clareadores removem manchas superficiais e melhoram a estética do sorriso. Sua ação pode ser mecânica, por meio de abrasivos como sílica hidratada e carbonato de cálcio, ou química, utilizando agentes como peróxidos e pirofosfatos para decomposição de pigmentos.

Embora esses produtos sejam eficazes na remoção de manchas extrínsecas, seu uso prolongado pode levar à sensibilidade dentária e ao desgaste do esmalte. É importante destacar que dentifrícios clareadores não substituem os procedimentos de clareamento profissional, pois não alteram a cor intrínseca do dente.

4. Dentifrícios antitártaro

Pacientes com predisposição à formação de tártaro podem se beneficiar de dentifrícios formulados para inibir a mineralização da placa bacteriana. Essas formulações incluem agentes como pirofosfatos e citrato de zinco, que dificultam a adesão do cálcio ao biofilme dental, reduzindo a formação de cálculo dental.

Além dos dentifrícios antitártaro, existem os dentifrícios antiplaca, que atuam diretamente na redução da adesão bacteriana à superfície dentária. O uso regular desses produtos, associado à higiene bucal adequada e visitas periódicas ao dentista, auxilia no controle do tártaro e na prevenção de doenças periodontais.

5. Dentifrícios antissépticos e antibacterianos

Indicados para pacientes com gengivite e doença periodontal, esses produtos contêmsubstâncias antimicrobianas que combatem o crescimento excessivo de bactérias e reduzem a inflamação gengival.

Os principais agentes utilizados incluem:

  • Triclosan associado ao gantrez: eficaz na redução do biofilme dental e da inflamação gengival;
  • Zinco: auxilia na redução da formação de placa bacteriana e na prevenção de halitose;
  • Clorexidina: possui forte ação antimicrobiana, sendo indicada para uso controlado sob supervisão odontológica.

O uso desses dentifrícios deve ser associado a uma rotina de higiene bucal rigorosa, incluindo fio dental e visitas regulares ao dentista.

6. Dentifrícios para xerostomia

Pacientes com fluxo salivar reduzido, como aqueles que apresentam xerostomia devido a condições médicas ou uso de determinados medicamentos, podem se beneficiar de dentifrícios específicos para essa condição.

Essas formulações são desenvolvidas para proporcionar hidratação oral e não contêm lauril sulfato de sódio (LSS), pois essa substância pode agravar a sensação de boca seca. Além disso, ajudam na prevenção de cáries e infecções oportunistas, comuns em pacientes com xerostomia.

7. Dentifrícios naturais

Com o crescimento da demanda por produtos menos industrializados, os dentifrícios naturais se tornaram uma opção para consumidores que buscam alternativas sem aditivos sintéticos. Esses produtos evitam substâncias como lauril sulfato de sódio, corantes artificiais, conservantes químicos e, em algumas formulações, o flúor.

Entre os ingredientes mais comuns estão extratos vegetais, óleos essenciais e carvão ativado. Apesar da popularidade, é importante que dentistas orientem os pacientes sobre a eficácia desses produtos, especialmente os que não contêm flúor, pois podem não oferecer proteção adequada contra cáries.

8. Dentifrícios infantis 

Os dentifrícios para crianças são formulados para garantir segurança e eficácia na higiene bucal infantil. A principal preocupação é a concentração de flúor, que deve ser adequada à faixa etária da criança para minimizar o risco de fluorose em caso de ingestão.

As recomendações de quantidade ideal de creme dental são:

  • Menores de 2 anos: quantidade equivalente a meio grão de arroz cru;
  • Entre 2 e 4 anos: quantidade equivalente a um grão de arroz cru;
  • Acima de 5 anos: quantidade equivalente a um grão de ervilha.

Além da escolha do dentifrício adequado, a escovação deve ser supervisionada por um adulto para garantir a remoção eficaz da placa bacteriana e evitar a ingestão excessiva do creme dental.

Dentifrícios: como escolher e como indicar? 

A recomendação de dentifrícios deve ser feita de forma individualizada, considerando as necessidades específicas de cada paciente. Embora o mercado ofereça diversas opções, o papel do dentista é orientar a escolha do produto mais adequado, levando em conta fatores como prevenção da cárie, controle da placa bacteriana, sensibilidade, estética e condições bucais específicas.

Close-up of applying toothpaste on a toothbrush.

O professor Jaime Cury, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP-UNICAMP), destaca que a escovação dental, embora essencial para o controle de biofilme, pode não ser suficientemente eficaz se feita sem critérios adequados.

O uso de dentifrício fluoretado ajuda a compensar essas limitações, atuando no fortalecimento do esmalte dentário e reduzindo o risco de cárie. A seguir, apresentamos os principais pontos que devem ser considerados ao recomendar um dentifrício. Não perca!

1. Avalie as necessidades do paciente

Cada paciente possui demandas específicas em relação à sua saúde bucal. Antes de indicar um dentifrício, o dentista deve avaliar fatores como risco de cárie, sensibilidade dentinária, presença de inflamações gengivais e tendência à formação de tártaro.

Para pacientes com maior predisposição à cárie, por exemplo, a escolha deve recair sobre um dentifrício fluoretado com concentração mínima de 1000 ppm, garantindo proteção efetiva contra o processo de desmineralização do esmalte.

Pacientes com hipersensibilidade dentinária podem necessitar de dentifrícios dessensibilizantes, enquanto aqueles com problemas gengivais podem se beneficiar de produtos com agentes antimicrobianos, como triclosan ou zinco.

2. Considere a faixa etária

A recomendação de dentifrícios para crianças deve ser feita com cautela, especialmente em relação à concentração de flúor. Associações odontológicas nacionais e internacionais recomendam o uso de dentifrícios fluoretados desde a erupção do primeiro dente, pois não é possível prever se uma criança terá ou não cárie no futuro.

No entanto, a quantidade de creme dental utilizada deve ser controlada para evitar a ingestão excessiva de flúor e o consequente risco de fluorose dentária. As diretrizes indicam o uso de uma quantidade equivalente a meio grão de arroz cru para crianças menores de dois anos e um grão de ervilha para crianças acima de cinco anos.

3. Sensibilidade e alergias

Antes de recomendar um dentifrício, é fundamental realizar uma anamnese detalhada para identificar possíveis sensibilidades ou alergias a componentes da formulação. O lauril sulfato de sódio (LSS), como já mencionamos, é um detergente comum em dentifrícios, mas pode desencadear reações adversas em pacientes com mucosa oral sensível.

Pessoas com histórico de reações alérgicas ou sensibilidade exacerbada devem ser orientadas a utilizar produtos sem essa substância, bem como dentifrícios formulados para minimizar irritações, como aqueles livres de corantes artificiais e conservantes sintéticos.

4. Uso controlado de dentifrícios clareadores e abrasivos

O uso indiscriminado de dentifrícios clareadores ou com alto índice de abrasividade pode levar ao desgaste do esmalte dentário e ao aumento da sensibilidade. Embora esses produtos sejam eficazes na remoção de manchas extrínsecas, seu uso deve ser moderado e, de preferência, acompanhado por um profissional.

Pacientes que buscam um clareamento mais efetivo devem ser informados de que os dentifrícios clareadores não substituem os procedimentos profissionais e que seu uso contínuo pode resultar em danos estruturais aos dentes.

5. Reiterar a importância da escovação e do fio dental

Mais importante do que a escolha do dentifrício é a adoção de hábitos eficazes de higiene bucal. O professor Jaime Cury destaca que, embora o biofilme seja um fator necessário para o desenvolvimento da cárie, a frequência da exposição a açúcares é o fator determinante.

Dessa forma, além do uso de dentifrícios fluoretados, a disciplina no consumo de açúcares e a frequência da escovação (pelo menos duas vezes ao dia, sendo a escovação noturna a mais eficaz) são estratégias fundamentais para a prevenção da cárie.

A recomendação do dentista deve sempre enfatizar que nenhum dentifrício substitui a necessidade da escovação correta e do uso diário do fio dental, práticas indispensáveis para a remoção eficaz da placa bacteriana e para a manutenção da saúde bucal a longo prazo.

Então, gostou de descobrir os principais assuntos que abordam os dentifrícios? Esperamos que sim! Aqui no Blog da Surya Dental, você encontra muitos outros conteúdos incríveis para te ajudar no dia a dia profissional. Não deixe de conferir e até a próxima!

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