Gengivite ulcerativa: o que dentistas precisam saber

Gengivite ulcerativa

A gengivite ulcerativa faz parte do grupo de doenças periodontais mais graves e é uma infecção oral que rapidamente debilita e destrói. Compreender a etiologia dessa manifestação bucal é essencial, especialmente por ser extremamente complexa, já que diversos fatores podem influenciar o seu surgimento — inclusive, questões emocionais.

Considerando isso, é crucial que o cirurgião-dentista tenha conhecimento e domínio sobre o assunto para orientar o paciente da melhor forma, assim como realizar procedimentos eficientes.

No post de hoje, vamos abordar o que dentistas devem saber sobre a gengivite ulcerativa, qual a etiologia e como lidar com a condição dentro do consultório. Boa leitura!

Classificação das doenças e condições periodontais

Não há dúvidas de que nomenclaturas mudam ao longo do tempo, e com a gengivite ulcerativa não é diferente. Provavelmente, você já deve ter ouvido diversos nomes para se referir à infecção, como a boca de trincheira, expressão que surgiu quando a doença passou a ser notada em soldados, justamente pela exposição a situações de estresse, saúde precária, má alimentação etc.

Mas também há outros termos, como infecção de Vincent, gengivoestomatite de Vincent e gengivoestomatite necrosante.

Em 2018, a Revista de Odontologia da Unesp divulgou a Classificação das doenças e condições periodontais, que divide as em três grupos:

  • Saúde periodontal, condições e doenças gengivais;
  • Periodontite;
  • Outras condições que afetam o periodonto.

A gengivite ulcerativa está no segundo grupo, na subdivisão “Doenças periodontais necrosantes em pacientes comprometidos temporária e/ou muderadamente”. Vale ressaltar que, no documento, ela consta como gengivite necrosante.

Ambos os termos são utilizados, assim como a popular sigla Guna, que significa gengivite ulcerativa necrosante aguda.

Principais sintomas

A gengivite ulcerativa é um processo inflamatório agudo do tecido gengival e é compreendido pelo surgimento de necrose, ulceração das papilas interdentais, entre outros sintomas. São eles:

  • Dor
  • Sialorreia
  • Sangramento espontâneo
  • Hálito fétido
  • Eritema linear
  • Pseudomembrana gengival
  • Sensação de gosto metalizado
  • Febre

Epidemiologia

O artigo “Doença periodontal necrosante” explica que a Guna pode ser vista com frequência na fatia da população jovem, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, embora neste último a infecção seja mais comum.

Nos países desenvolvidos, a doença é considerada rara, já que, desde as últimas décadas do século 20, houve uma queda considerável no número de casos. A faixa etária mais atingida é de jovens adultos de até 30 anos e costuma ser mais comum em pessoas de cor branca e fumantes. A incidência é praticamente igual em homens e mulheres.

Gengivite ulcerativa
Guna: causa e tratamento devem ser estudados para garantir bem-estar ao paciente.

Já nos países em desenvolvimento, onde a prevalência é maior, podemos ver crianças de até 10 anos com gengivite ulcerativa, mas o destaque é para a faixa etária dos 2 aos 6 anos.

Nesses locais, os motivos que influenciam o surgimento de Guna são higiene bucal precária, má nutrição, doença debilitante pré-existente e oris.

Etiologia

Como explicamos no início deste post, a etiologia da gengivite ulcerosa é complexa, justamente por haver diversos aspectos que podem ser associados à infecção. A Guna acontece em pacientes que já têm predisposição para desenvolver a doença, ou seja, indivíduos cuja presença de algumas bactérias não são o suficiente para impedir a invasão dos patógenos, como explica a pesquisa “Doença periodontal necrosante”.

De acordo com o artigo, essa não é a única explicação para o surgimento de Guna. Doenças sistêmicas — incluindo HIV —, desnutrição, higiene oral precária, gengivite pré-existente, estresse psicológico, sono inadequado, consumo de tabaco e álcool, assim como ser uma pessoa de cor branca e da faixa etária jovem são fatores que contribuem para a patologia.

Em seguida, explicaremos melhor cada um desses aspectos.

Estresse e sono inadequado

Pesquisas já associaram a gengivite ulcerativa ao estresse, como relata o caso clínico “Periodontite ulcerativa necrosante”, que atendeu uma paciente de 18 anos e que relatou na anamnese estar sob intenso estresse psicológico.

Vale lembrar que essa é uma doença comum em soldados em combate, que são profissionais em constante situação de estresse e sono inadequado. Além deles, outros grupos afetados são estudantes em períodos de provas, pacientes com depressão e outros distúrbios.

Existe uma relação entre estresse e higiene bucal: quando o indivíduo passa por momentos complexos psicologicamente, é comum que os cuidados com a saúde sejam menores, a alimentação não seja saudável e, em alguns casos, o uso do tabaco, álcool e outras drogas aumente. Todos esses aspectos influenciam diretamente na função imunológica.

O estudo “Gengivite ulcerativa necrosante: um relato de caso” informa que existe uma explicação sobre o estresse associado à Guna, que acontece em dois mecanismos:

  • “Depressão em componentes celulares, sobretudo nos leucócitos polimorfonucleares e na capacidade de quimiotaxia e fagocitose” — diante dessa situação, o estresse dificulta o processo de cicatrização;
  • “Diminuição da microcirculação gengival e do fluxo salivar” — esse contexto aumenta a colonização de bactérias e favorece a Guna.
Gengivite ulcerativa
Guna: tratamento também envolve entender o sono e situações de estresse do paciente.

Imunossupressão

Segundo a revisão de literatura “Manifestações orais em pacientes imunodeprimidos pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)”, 60% das pessoas que convivem com HIV são afetadas por patologias orais devido ao sistema imunológico fragilizado.

A pesquisa “Doença periodontal necrosante” explica que, entre os fatores, o HIV e a aids foram fortemente relacionados à gengivite ulcerativa, inclusive, pode ser um dos primeiros sintomas percebidos pelas pessoas.

Dica: ao receber no consultório um paciente com gengivite ulcerativa, oriente-o a fazer a testagem para HIV, para descartar a hipótese.

Má nutrição

A Guna também pode ter relação com má nutrição, especialmente pelo défice proteico, que possibilita a diminuição de resposta das proteínas de fase aguda às infecções.

Outros aspectos relacionados à desnutrição são citados na pesquisa “Associação entre estado nutricional e doença periodontal crônica” e podem ser a carência de vitamina C, B e cálcio; o impacto à resposta inflamatória e aos tecidos gengivais etc.

Tabaco e álcool

Muitos cientistas da área acreditam que o tabaco e as doenças periodontais estão relacionados. Nesse caso, o surgimento da gengivite ulcerativa é muito semelhante ao que acontece com o estresse.

De acordo com o artigo “Doença periodontal necrosante”, a “nicotina induz a secreção de adrenalina, o que leva a uma vasoconstrição gengival e, como consequência, altera a susceptibilidade dos tecidos”.

Já as bebidas alcoólicas, quando ingeridas exacerbadamente, podem influenciar no surgimento das doenças periodontais, fora os efeitos psicológicos.

Além de todos os pontos citados, relembramos que a higiene bucal precária, pessoas de cor branca, jovens adultos, infecções sexualmente transmissíveis, entre outros, podem contribuir para o surgimento de Guna.

Como vimos, a gengivite ulcerosa pode ser proveniente de diversos fatores. Dessa forma, ressalta-se a importância de uma anamnese bem aplicada, que não seja tão mecânica, e sim que tenha abertura para o diálogo e para compreender diversos aspectos da vida do paciente, incluindo a saúde psicológica.

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