Manifestações bucais de sífilis: o que é, sintomas, tratamento e mais

Sífilis na boca: conheça os sintomas, diagnóstico, tratamento e condutas clínicas para dentistas. Identifique todas as manifestações com segurança!

A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum. Embora muitas vezes associada a manifestações genitais, essa doença pode afetar diferentes regiões do corpo — e a cavidade bucal é um desses locais.

As lesões na boca podem ser os primeiros sinais da infecção ou até os únicos, e por isso, o papel do cirurgião-dentista é indispensável quando falamos sobre um diagnóstico precoce. Se você quer entender melhor o assunto, está no lugar certo! Hoje, vamos abordar tudo o que você, dentista, precisa saber sobre a sífilis na boca, incluindo sintomas, estágios, manifestações orais, tratamento, cuidados clínicos e condutas recomendadas!

Afinal, o que é a sífilis?

A sífilis é uma IST de caráter sistêmico e progressivo, transmitida principalmente por via sexual (oral, vaginal ou anal) ou vertical (de mãe para filho, durante a gestação). Seu agente etiológico é o Treponema pallidum, uma espiroqueta altamente sensível ao ambiente externo, sobrevivendo apenas em mucosas úmidas.

Apesar da ideia de que a sífilis é uma doença do passado, sua incidência tem aumentado nos últimos anos. Dados do Ministério da Saúde apontam crescimento alarmante no número de casos, sobretudo entre jovens de 13 a 29 anos, realidade que reforça a importância do dentista como agente de saúde integral, capaz de identificar precocemente manifestações orais da doença.

Sífilis na boca: como ocorre?

A sífilis na boca ocorre quando a bactéria entra em contato com microlesões da mucosa oral durante o sexo oral desprotegido. Lesões podem surgir em qualquer parte da cavidade bucal, como língua, lábios, palato, gengiva e mucosa jugal, e variam conforme o estágio da doença.

Em muitos casos, os sintomas são confundidos com outras condições, como aftas, herpes, líquen plano erosivo, candidíase ou até carcinoma espinocelular. Por isso, o conhecimento clínico é essencial para a diferenciação.

É importante considerar que a sífilis apresenta três fases clínicas (primária, secundária e terciária), além da forma congênita. Cada estágio possui manifestações orais características que têm o potencial de confundir o diagnóstico. Confira na tabela comparativa:

Estágio Nome clínico Manifestações bucais Locais comuns Sinais sistêmicos
Primária Cancro duro Úlcera indolor, bordas elevadas, base firme Lábios, língua, palato, gengiva Ínguas cervicais, possível lesão genital
Secundária Disseminada Placas mucosas esbranquiçadas, condiloma lata, máculas, pápulas Língua, palato, lábios, mucosa jugal Febre, dor de garganta, cefaleia, mal-estar, perda de peso
Terciária Goma sifilítica Goma ulcerada, glossite intersticial, perfuração do palato Palato, língua Comprometimento neurológico e cardiovascular
Congênita Tríade de Hutchinson Dentes de Hutchinson, molares em amora, glossite, palato arqueado Incisivos, molares Surdez, queratite ocular, alterações ósseas

Quais são os sintomas da sífilis na boca?

Os principais sintomas da sífilis na cavidade oral incluem:

  • Úlcera única ou múltipla, geralmente indolor;
  • Placas mucosas esbranquiçadas;

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  • Lesões serpentiformes com exsudato acinzentado;
  • Gomas ulceradas;
  • Ínguas no pescoço;
  • Febre, dor de garganta e mal-estar;
  • Alterações dentárias em pacientes jovens (congênitas).

Essas manifestações podem ser confundidas com outras condições, por isso, exigem avaliação clínica minuciosa e exames complementares.

Sífilis na língua: o que observar?

A sífilis na língua é uma manifestação frequente, especialmente nos estágios secundário e terciário. Podem aparecer:

  • Úlceras únicas ou múltiplas;
  • Placas esbranquiçadas e irregulares;
  • Glossite intersticial com aumento do volume da língua;
  • Gomas nodulares que podem ulcerar;
  • Lesões que mimetizam neoplasias malignas.

Assim, o profissional dentista deve ficar atento principalmente a lesões indolores que persistem por mais de 2 semanas e não respondem ao tratamento convencional.

Como fazer o diagnóstico da sífilis oral?

O diagnóstico da sífilis oral envolve avaliação clínica criteriosa, anamnese odontológica detalhada e exames complementares. Veja os principais passos que o dentista deve seguir:

  • Com uma anamnese detalhada, questionar sobre sintomas gerais, histórico sexual, presença de lesões genitais, uso de preservativos, parceiros com ISTs e sintomas sistêmicos recentes;
  • Fazer um exame clínico minucioso da cavidade oral, pescoço e orofaringe;
  • Realizar testes rápidos para sífilis, disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS);
  • Aplicar um exame sorológico VDRL como padrão confirmatório para detectar anticorpos;
  • Quando necessário, realizar ou encaminhar para biópsia incisional da lesão e exame anatomopatológico.

A combinação de exame físico com testes laboratoriais geralmente é suficiente para fechar um bom diagnóstico. Caso haja suspeita de outras ISTs associadas, como HIV e hepatites virais, também é indicado solicitar exames sorológicos específicos.

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Importante: em caso de dúvida ou insegurança diagnóstica, o paciente deve ser encaminhado para estomatologista, infectologista ou centro especializado.

Como fazer o tratamento da sífilis oral?

O tratamento da sífilis é simples, eficaz e de baixo custo, porém, essencial para evitar complicações graves. A droga de primeira escolha é a penicilina G benzatina, administrada por via intramuscular. O esquema varia conforme o estágio:

Estágio da sífilis Esquema de tratamento
Primária, secundária ou recente (<1 ano) 2,4 milhões UI em dose única
Latente tardia ou terciária 2,4 milhões UI 1x/semana por 3 semanas (total: 7,2 milhões UI)
Sífilis congênita Esquema específico conforme idade e peso

Para pacientes alérgicos à penicilina, opções como doxiciclina, tetraciclina ou ceftriaxona podem ser indicadas sob orientação médica.

Saiba: mesmo após a melhora dos sintomas, o paciente deve continuar o acompanhamento com exames de controle (VDRL seriado) e evitar contato sexual até liberação médica.

Além disso, o tratamento também deve incluir o(a) parceiro(a) do paciente, pois a reinfecção é comum quando apenas um dos envolvidos é tratado.

Quais cuidados tomar durante o atendimento odontológico?

O atendimento odontológico de pacientes com sífilis exige biossegurança rigorosa. O dentista deve:

  • Utilizar sempre EPI completo (máscara, luvas, óculos e avental);

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  • Adiar procedimentos invasivos se houver lesões orais ativas, priorizando o controle das manifestações da mucosa;
  • Redobrar os cuidados com desinfecção e esterilização de instrumentais;
  • Avaliar a necessidade de atendimento em ambiente hospitalar, caso o paciente tenha sífilis em fase terciária ou com comprometimento neurológico.

As manifestações orais secundárias (ex.: placas mucosas) são altamente contagiosas, por isso, o contato direto com saliva ou secreções deve ser minimizado. Além disso, a cavidade oral é o principal sítio extragenital de inoculação do Treponema pallidum, o que faz com que a atenção do cirurgião-dentista possa ser determinante para evitar a progressão da doença.

E então, achou interessante esse conteúdo sobre a sífilis na boca? Essa é uma condição que não deve ser ignorada, pois seus sinais podem ser discretos, mas revelam uma condição infecciosa grave, progressiva e altamente contagiosa — especialmente nos estágios iniciais.

É importante considerar que identificar corretamente a sífilis na língua, úlceras orais e outras lesões associadas pode fazer toda a diferença para o paciente — e o cirurgião-dentista, com o conhecimento certo, é capaz de salvar sorrisos — e vidas. Até a próxima!

Surya Dental

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