Classificação de Black: o que significa cada uma das classes

classificação de black

Para que dentistas possam diagnosticar e determinar os tratamentos mais adequados para cáries, é fundamental que haja uma categorização que simplifique a linguagem e estabeleça parâmetros para reconhecimento das lesões. Pensando nisso, Greene Vardiman Black desenvolveu um sistema denominado classificação de Black. 

Neste texto, você vai compreender o que é, como essa divisão surgiu, o que cada classe indica para os diagnósticos, quais são os critérios adotados, os prós e contras, além de como identificar erros comuns dos profissionais na prática. Boa leitura! 

Banner Surya Acadêmicos.

O que é a classificação de Black?  

A classificação de Black, na odontologia, é um sistema utilizado para detectar e tratar diferentes tipos de lesões dentárias. A categorização é fundamental para que cirurgiões-dentistas possam diagnosticar, planejar o tratamento e escolher materiais restauradores de acordo com cada situação. 

Como surgiu a classificação de Black?  

A categorização surgiu no final do século XIX, criada pelo dentista americano Greene Vardiman Black (1836-1915). Ele revolucionou a forma como se entendia e tratava cáries dentárias e estabeleceu normas para o desenvolvimento de amalgamas dentárias e técnicas de restauração. 

A necessidade dessa classificação surgiu a partir da observação de que as cáries não se manifestavam de maneira uniforme nos dentes, mas sim em padrões específicos que dependiam de sua localização e do tipo de dente afetado. Até então, não existia um sistema padronizado que ajudasse os dentistas a diagnosticar e tratar as lesões dentárias de maneira eficaz e sistemática. 

De acordo com material “Nomenclatura e classificação das cavidades”, da Universidade de São Paulo (USP), Black determinou dois tipos de classificações: etiológica e artificial. A primeira aponta áreas dos dentes suscetíveis à cárie; a segunda, categoriza as cavidades em classes que requerem o mesmo tipo de instrumentação e restauração. 

Originalmente, a classificação artificial de Black incluía cinco categorias, conhecidas como classe I a classe V. Cada uma especifica a localização diferente e orienta os dentistas sobre a melhor abordagem de tratamento. Mais tarde, foi adicionada uma sexta categoria, a classe VI de Black, para contemplar os casos de desgaste dos pontos de contato naturais dos dentes, como bordas incisais e cúspides, que não foram originalmente considerados pelo dentista. 

Ao definir essa classificação, Black também estabeleceu fundamentos para a prática da odontologia restauradora, incluindo princípios para: 

  • Preparo de cavidade. 
  • Técnicas de restauração. 
  • Desenvolvimento de materiais dentários. 

Entretanto, vale ressaltar que as contribuições de Greene à odontologia não se limitaram à classificação das cáries; ele também foi um pioneiro em promover a prática baseada em evidências, reforçar a importância da prevenção e a adoção de uma abordagem científica no campo da odontologia. 

classificação de black
Black dividiu as classificações em etiológica e artificial.

Classificação etiológica 

A partir dos estudos clínicos, existem cavidades provocadas por patologias ou acidentes. Assim, Black menciona alguns tipos, tais como: 

  • Cárie: deterioração dentária causada por bactéria. 
  • Fratura: quebra ou rachadura que pode ir do esmalte à dentista ou até à raiz. 
  • Abfração: desgaste não carioso na parte vestibular do dente por tensões biomecânicas. 
  • Abrasão: comprometimento devido a forças mecânicas. 

Classificação artificial de Black  

A partir dos quadros clínicos e das cavidades encontradas nos dentes, são feitas classificações para que possam ser reconhecidas. Vamos entender cada uma na sequência. 

Classe I  

A classe I de Black é caracterizada pelas cáries em fossas e fissuras de todas as superfícies dos molares e pré-molares, além das faces linguais dos incisivos superiores

Esse tipo de cárie é geralmente encontrado nos pontos de difícil acesso da higiene dental, mais suscetíveis à acumulação de placa bacteriana. Para tratar as lesões, a recomendação é retirar o tecido cariado e restaurar, seja com resina composta ou amálgama. 

Classe II  

A classe II de Black contempla cáries em superfícies proximais dos molares e pré-molares, áreas que estão mais próximas do dente adjacente.  

Para tratá-las, muitas vezes é necessário remover uma porção saudável do dente para garantir acesso e visibilidade adequados. Isso pode incluir a colocação de restaurações mais complexas, como inlays ou onlays

Classe III  

A classe III de Black é designada às cáries que afetam as superfícies proximais dos incisivos e caninos, mas que não interferem nas bordas incisais.  

Diferentemente da categoria II, é geralmente menos invasiva e visível, requerendo técnicas conservadoras de restauração como resinas compostas, evitando desgaste adicional nas bordas. 

Classe IV  

A classe IV de Black também inclui lesões em incisivos e caninos, mas nas superfícies proximais e bordas incisais. Esse tipo de cárie é notável pois afeta a estética do sorriso de maneira significativa. 

Demanda cuidados especiais para restaurar não apenas a forma, mas também a função e a estética. Muitas vezes envolve materiais como resinas compostas ou porcelanas

classificação de black
A classe IV requer cuidados na restauração, pois afeta forma, função e estética dos dentes.

Classe V  

Esta classe V de Black é atribuída às cáries nas superfícies cervicais — na junção do esmalte com a raiz, abaixo da união amelocementária. A categoria abrange todos os dentes. 

As lesões ocorrem frequentemente por causa de retração gengival que expõe a raiz do dente, tornando-os suscetíveis a cáries por ser menos resistente que o esmalte. Trata-se da classe de restaurações menos invasivas, com resina composta. 

Classe VI 

Incorporada depois, a classe VI de Black refere-se a cavidades ocasionadas nas cúspides dos molares, pré-molares e bordas incisais dos dentes anteriores. Geralmente, estão associadas ao desgaste abrasivo ou erosivo, e não a um processo carioso. O tratamento é feito pela restauração com material que resgata a função e a forma das estruturas. 

Critérios da classificação  

A classificação de Black é baseada em dois critérios essenciais: a localização da cárie e o envolvimento dos dentes afetados. Vamos abordar mais sobre os parâmetros. 

Localização da cárie  

O critério diz respeito à área específica do dente onde a cárie ou a lesão se desenvolve. Black reconheceu que diferentes locais possuem suscetibilidades variadas devido a fatores como anatomia dentária, acumulação de placa bacteriana e exposição a ácidos. 

Assim, estabeleceu uma nomenclatura e classificação das cavidades de Black: 

  • Fossas e fissuras: especificadas na classe I, são afetadas devido à retenção de alimentos e dificuldade na higienização. 
  • Superfícies proximais: refere-se às faces laterais que ficam adjuntas a outros dentes, dividindo-se entre as classes II e III de Black. 
  • Bordas incisais e cúspides: estruturas oclusais que cortam e trituram alimentos, as lesões afetam a estética e a função, divididas nas classes IV e VI. 
  • Cervical: região localizada entre a junção da raiz e do esmalte, causada pela retração gengival, atribuída à classe V. 
Banner fino materiais de endodontia.

Extensão e envolvimento dos dentes  

O parâmetro aborda a gravidade da lesão em termos de quão ampla é a área afetada e se a cárie compromete estruturas críticas do dente, como a polpa dentária.  

Ele se relaciona indiretamente às classes definidas por Black, na medida em que cada classe requer uma abordagem de tratamento que considera a extensão do dano, podendo ser conservador ou mais complexa, por exemplo. 

Classificação de black
A gravidade de uma cárie depende da extensão e do envolvimento dos dentes, podendo chegar até a polpa dentária.

Como a classificação é utilizada na prática?  

As classes de Black na odontologia que você acabou de conhecer fornecem um sistema para identificar e tratar cáries e outras patologias dentárias com base na localização e extensão. A classificação simplifica o diagnóstico, a comunicação entre profissionais e a escolha do plano de tratamento mais adequado, assegurando efetividade, durabilidade dos procedimentos, além de mais qualidade de vida ao paciente. 

Banner fino materiais para dentística e estética.

Vantagens e desvantagens das classificações de Black  

Entre os benefícios que a classes dos dentes de Black traz para a odontologia podemos listar: 

  • Especificidade: oferece definição clara e específica dos tipos de cavidades, facilitando a compreensão entre profissionais para cada caso. 
  • Universalidade: promove padronização de tratamentos, permitindo linguagem comum entre dentistas de diferentes locais. 
  • Direcionamento para o tratamento: ajuda os profissionais a determinar o melhor diretriz. 

No entanto, a categorização e divisão em classe possui alguns contras, entre eles: 

  • Limitação na abrangência: pode não abordar completamente outras condições, como relacionadas a doenças periodontais ou erosões dentárias. 
  • Risco de simplificação excessiva: é capaz de limitar a visão do profissional apenas às classes estabelecidas, restringindo o diagnóstico e a aplicação do tratamento. 

Erros comuns na identificação das classes 

Por se tratar de uma classificação que exige análise clínica detalhada para identificar as lesões e, assim, decidir por qual tratamento optar, pode ser que os cirurgiões-dentistas cometam alguns erros e confusões.  

Entre as principais estão: 

  • Interpretar critérios equivocadamente: o que pode levar a escolha errada de tratamento. 
  • Confundir as classes: principalmente quando as lesões se apresentam de forma atípica ou quando envolvem múltiplas superfícies. 
  • Desconsiderar a progressão da cárie: as restaurações podem ser estendidas além das áreas da classificação original. 
  • Ignorar novas classificações: outras abordagens podem ser mais detalhadas e impactar o diagnóstico correto. 
  • Falhar na execução: classificar de forma inadequada pode ocasionar restaurações erradas, seja pela escolha do material ou má aplicação do procedimento. 

Para evitar esses erros, é preciso que os dentistas estejam sempre atualizados com relação às referências e novas práticas, adotando evidências científicas disponíveis para o campo de atuação. A prática e a experiência também são cruciais para visualizar as classificações de Black no dia a dia dos atendimentos. 

Se você ficou interessado em ler mais conteúdos sobre o mundo da odontologia, clique na imagem abaixo e acesse outros artigos disponíveis no blog da Surya Dental! 

conteúdos para universitários de odontologia no blog da surya dental

Marketing Surya

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigo anterior
aplicação de hidroxiapatita de cálcio

Como a hidroxiapatita de cálcio é usada em procedimentos?

Próximo artigo
doenças na língua

Doenças na língua: o que são, causas, sintomas e diagnósticos

Posts relacionados