Amamentação e odontologia estão relacionadas, é fato. Isso porque o aleitamento materno é essencial para o desenvolvimento do bebê em diversos aspectos, contribuindo para uma oclusão dentária normal e, futuramente, para uma mastigação correta que permita a criança se alimentar bem.
Neste conteúdo, vamos compreender melhor a relação entre amamentação e saúde bucal, assim como fornecer informações relevantes sobre o assunto para cirurgiões-dentistas.
Leite materno: por que ele é um alimento essencial?
Todos nós já ouvimos falar que o leite materno é um alimento extremamente benéfico, tanto para a mãe quanto para o próprio bebê. Nutricionalmente, ele promove a hidratação da criança, é mais higiênico que outros leites, é livre de contaminação, facilita a digestão, previne contra diarreia e protege contra o desenvolvimento de microrganismos patogênicos no intestino, como explica o artigo “Aleitamento materno na visão da odontopediatria”.
O leite materno é produzido justamente para se adequar às necessidades do bebê. Em uma situação em que a criança esteja passando por algum problema de saúde, por exemplo, o alimento muda a composição para tornar-se nutritivo de acordo com o que for necessário.
Ainda de acordo com o artigo, o aleitamento oferece vantagens para a mãe a nível econômico, praticidade, fortalecimento de laços com o bebê, previne hemorragia pós-parto, diminui incidência de câncer de mama e outras doenças mamárias.
Amamentação e odontologia: qual o papel do dentista?
Considerando um cenário de atendimento multidisciplinar, o cirurgião-dentista tem o importante papel de oferecer informações para a mamãe sobre os benefícios da amamentação na odontologia, ou seja, como ela é fundamental para o desenvolvimento de toda a área bucal do bebê e, claro, para a saúde em geral.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno é recomendado até os dois anos ou mais de idade e exclusivo nos primeiros seis meses. Porém, muitas mulheres, por diversos motivos, como sobrecarga, não conseguem seguir com a amamentação.
Um dos motivos que impedem as mulheres de manterem o aleitamento é a falta de informação, que, muitas vezes, é um erro cometido pelos próprios profissionais que acompanham a mãe. O conhecimento muda tudo e, quanto mais a pessoa sabe, melhor ela consegue lidar com a situação — por isso o cirurgião-dentista deve também entender o assunto.
Importância da amamentação na odontologia
O artigo “Odontologia e amamentação” informa que o aleitamento contribui para desenvolver ações como sucção, deglutição e respiração. Todo esse esforço feito pelo bebê também contribui para a evolução dos músculos faciais, previne má oclusões e a aquisição de hábitos negativos, como chupar o dedo.
Ainda de acordo com o artigo, a amamentação auxilia a criança a desenvolver uma respiração correta o que mantém boa conexão entre as estruturas duras e moles do aparelho estomatognático, promovendo a postura de língua adequada e o vedamento de lábios.
O tônus muscular também é favorecido, o que é essencial para preparar a chegada da primeira dentição, “promovendo o crescimento ântero-posterior, dos ramos mandibulares e a modelação do ângulo mandibular”, segundo o estudo.
Em 2014, diversas entidades relacionadas à área pediátrica, incluindo associações de cirurgiões-dentistas, assinaram o manifesto em apoio ao aleitamento materno, listando os seguintes benefícios da amamentação na odontologia:
- Crescimento do complexo crânio-facial;
- Treinamento da musculatura bucal;
- Bom desenvolvimento da estrutura óssea e dos músculos da face;
- Desenvolvimento da mastigação, fonação, deglutição, respiração;
- Posicionamento correto dos arcos dentários;
- Formação do esmalte dos dentes;
- Menos chances de desenvolvimento de cáries em bebês;
- Dentição decídua saudável.
Como os dentistas podem atuar?
O trabalho do cirurgião-dentista, nesses casos, inicia muito antes do bebê nascer, no chamado pré-natal odontológico. Esse é o momento de orientar a gestante a respeito da própria higiene bucal, mas também de informar sobre a amamentação e a importância dela.
As informações sobre o aleitamento materno servem como motivação, incentivo e conscientização. Quanto mais cedo a gestante estiver por dentro do assunto, maiores são as chances de se sentir segura para amamentar e de buscar ajuda de outros profissionais que possam prepará-la para isso.
Após o nascimento do bebê, o dentista deve orientar a família a fazer a higiene oral correta no pequeno, sobretudo com atenção às cáries, que podem surgir por influência do uso de medicamentos com sacarose e, até mesmo, do aleitamento, caso não seja feita a higienização adequada na boca da criança.
Outra informação fundamental é que o lactente deve receber higiene bucal, no mínimo, duas vezes ao dia, pela manhã e à noite. A atenção deve ser redobrada para o período noturno, após a última mamada.
Para fazer a higienização, basta utilizar gaze ou fralda umedecida em água filtrada ou fervida. Há também as opções de dedeiras de silicone e escovas mucobucais.
Cárie de mamadeira
O artigo “Aleitamento materno na visão da odontopediatria” explica algo bastante curioso: a cavidade bucal dos bebês ao nascer é praticamente estéril. Entre os 19 e 31 meses de idade, estabelece-se o período mais crítico, também conhecido como janela de infectividade, no qual há mais chances da aquisição do microrganismo Streptococcus, responsável pela cárie.
Devido à lactose, qualquer tipo de leite pode promover cáries, sobretudo quando há má higienização bucal, especialmente no período noturno, que é marcado pela diminuição da salivação. Dessa forma, o alimento fica estagnado e prejudica o esmalte dentário.
O artigo pontua que algumas das características da cárie de mamadeira são “envolver grande número de dentes, ter evolução rápida, ocasionar extensa destruição coronária, atingir superfícies consideradas de baixo risco à cárie e ter um padrão e envolvimento dental definido, afetando os dentes decíduos na sequência em que irrompem na cavidade bucal”.
Fatores que aumentam risco de cáries
Além da má higiene bucal relacionada à amamentação, é importante destacar outros motivos que podem levar a cáries. De acordo com o artigo “Breastfeeding and early childhood caries. Review of the literature, recommendations, and prevention”, os seguintes fatores contribuem:
- Consumo de açúcar (em sucos industrializados, iogurtes, mel e bebidas doces);
- Número de refeições realizadas por dia;
- Medicamentos açucarados;
- Contexto sociocultural;
- Visitas ao cirurgião-dentista;
É muito importante que o paciente tenha acesso a essas informações para evitar que a antiga ideia de que amamentação além de um ano faz mal aos dentes seja propagada, uma vez que a própria OMS e a Sociedades de Pediatria e Odontopediatria se posicionam a favor, sempre ressaltando a importância da higiene bucal, do controle de dieta e de visitas ao dentista.
Não há dúvidas do quão essencial o odontopediatra é nos cuidados com o bebê. Tão necessário quanto incentivar a amamentação, orientar sobre a saúde bucal e as cáries que podem surgir pela falta de higiene durante o aleitamento é crucial para a saúde da criança.
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