O lúpus na odontologia tem suas próprias características. Isso significa que a doença não só afeta a pele do paciente como também é cercada de aspectos que impactam a saúde bucal de quem é diagnosticado com ela.
Dessa forma, é muito importante que cirurgiões-dentistas estejam prontos para lidar com o lúpus no consultório e saibam como fazer o manejo correto do paciente. Neste post, você confere quais os cuidados são necessários para o atendimento a esse grupo.
O que é lúpus?
Lúpus é uma doença inflamatória crônica, multissistêmica e autoimune. Assim como outras patologias que envolvem o sistema imunológico, as próprias células de defesa do organismo entram em desequilíbrio e atacam os tecidos saudáveis do corpo.
Ele pode ser dividido nos seguintes grupos:
- Lúpus discoide: surge apenas em forma de manchas na pele, geralmente avermelhadas ou eritematosas, no rosto, decote, pescoço, nas orelhas e nos braços (áreas expostas ao sol).
- Lúpus induzido por drogas: decorrente do uso de determinados medicamentos, como antiarrítmico e vasodilatador. Os sintomas são semelhantes ao tipo sistêmico da doença, mas, com a interrupção dos fármacos, a doença é resolvida.
- Lúpus eritematoso sistêmico (LES): forma mais grave da doença, pode afetar todos os órgãos e sistemas. Tem períodos de exacerbação e remissão.
E o que causa lúpus? A etimologia da doença ainda gera muitas dúvidas e, dessa forma, não é totalmente conhecida. Entretanto, a ciência faz conexão com predisposição genética e fatores ambientais relacionados à luz ultravioleta e uso de determinados medicamentos.
Apesar de acometer homens e mulheres de qualquer etnia, o LES é três vezes mais frequente em pessoas negras e mais comum em mulheres jovens e em idade reprodutiva, segundo o artigo “Estudo das características estomatológicas e sistêmicas em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico”.
Sintomas do lúpus: como o paciente é afetado?
O lúpus pode afetar de diferentes formas, mas tudo vai depender da fase da doença, que às vezes está ativa ou em remissão. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, o paciente pode ter:
- Febre
- Emagrecimento
- Perda de apetite
- Diminuição das células do sangue
- Inchaço dos gânglios
- Vermelhidão no nariz e nas faces, formando a famosa borboleta
- Lesões na pele que fica em contato com a luz
- Fotossensibilidade
- Dores articulares
- Dor ao respirar, tosse seca e falta de ar
- Inflamação nos rins
- Alterações neuro-psicoses
Já na região bucal, de acordo com o mesmo artigo, pode ocorrer o surgimento de:
- Úlceras orais e nasais
- Gengivite descamativa
- Gengivite marginal
- Lesões erosivas na mucosa
- Distúrbios de articulação temporomandibular (artralgia e artrite)
- Síndrome de Sjögren (xerostomía e hipo-hidrose generalizada)
- Higiene bucal precária por causa das lesões
- Cáries dentárias
Apesar de ainda haver poucas pesquisas com a relação lúpus e odontologia, o artigo “Lúpus eritematoso sistêmico em odontologia” apresenta dados de que as manifestações bucais ocorrem em entre 6,5% e 21% dos pacientes com LES, sobretudo na língua, mucosa jugal, nos lábios e no palato.
Cuidados com pacientes com lúpus na odontologia
O paciente precisa de atenção especial e de atendimento personalizado, de acordo com as necessidades da doença, afinal, o uso constante de medicamentos para o LES, a evolução da patologia e o processo infeccioso contribuem para alterações bucais.
Anamnese
Como sempre, o atendimento deve começar por uma boa anamnese, na qual você vai analisar de que forma o LES afeta esse paciente e compreender se há doenças sistêmicas que surgiram em decorrência do lúpus — como já falamos, a patologia interfere na saúde de diversas formas.
A dica é não ficar preso apenas às perguntas do roteiro, e sim praticar escuta ativa para explorar diversos aspectos da doença. Para isso, é claro, o cirurgião-dentista deve estudar a fundo o lúpus.
Segundo o artigo “Importância da odontologia no diagnóstico do lúpus eritematoso sistêmico”, pontos importantes para se ter conhecimento e anotar na anamnese são:
- Estabilidade do paciente
- Perfil hematológico
- Tempo de protrombina
- Tempo de tromboplastina parcial
- Tempo de sangramento
- Uso de medicamentos
- Histórico familiar
- Quadro sintomatológico
- Condições sistêmicas (caso o paciente saiba que tem lúpus)
Exames
Além de uma anamnese criteriosa, é muito importante a avaliação clínica com foco nos tecidos duros e moles da cavidade bucal e nas articulações temporomandibulares.
Tratamento multidisciplinar
Os cuidados com o paciente com lúpus devem ser feitos de forma multidisciplinar, e isso inclui a odontologia. Dessa forma, o médico e o cirurgião-dentista devem manter bom contato para que cada um possa trocar ideias das ações implementadas.
O médico responsável pelo paciente será a sua melhor fonte de consulta para conhecer melhor a situação de um ponto técnico. Além disso, é importante alinhar com esse profissional quais medicamentos podem ser utilizados, quais cuidados devem ser aprimorados e, até mesmo, partes mais específicas que a pessoa pode não saber responder.
Uma dica valiosa é fazer uma carta para o médico toda vez que o paciente visitar o seu consultório. Dessa forma, na próxima consulta com esse profissional, a pessoa poderá levar as informações detalhadas e, assim, manter uma comunicação eficaz entre os envolvidos no tratamento.
Orientações ao paciente
O cirurgião-dentista tem a responsabilidade de orientar o paciente para que adquira hábitos que melhorem a qualidade de vida e, entre as dicas, está a conscientização do acompanhamento odontológico com intervalos de três a seis meses.
Atenção: quando a doença estiver em período de crise, o tratamento deve ser suspenso, exceto em casos de extrema necessidade, como recomenda o artigo “Importância da odontologia no diagnóstico do lúpus eritematoso sistêmico”.
Ainda segundo a pesquisa, é importante evitar cremes dentais quando houver úlceras e, como substituto, pode-se utilizar o bicarbonato de sódio em uma escova macia. Além disso, é essencial que o paciente seja bem orientado sobre a importância da higiene bucal por conta das manifestações que podem ocorrer devido ao LES.
Uma dica interessante é instruir o paciente a fazer o autoexame, ou seja, dar a autonomia para que a pessoa possa identificar alterações na gengiva, mucosas e palato. Esse ato de examinar com atenção pode fazer com que o indivíduo busque ajuda do dentista de forma precoce.
Humanização do consultório
Um dos cuidados com o paciente com lúpus está em algo bem simples: a humanização no atendimento. De fato, a recepção a qualquer pessoa deve ser pautada no respeito e na empatia, mas em alguns grupos, a atenção com a ansiedade e o medo deve ser redobrada.
Justamente pela necessidade de manter-se próximo do consultório odontológico é importante que nesse espaço a pessoa sinta-se calma e tranquila, e possa vencer a odontofobia e ansiedade odontológica.
Vale lembrar que a saúde mental do portador de lúpus, quando está abalada, pode gerar consequências negativas para o sistema nervoso, o que contribui para o desenvolvimento da doença.
Lembre-se de manter uma conversa tranquila com a pessoa, além de usar estratégias que a acalmem. Medir o nível de ansiedade antes do atendimento pode ser uma boa ferramenta para planejar o procedimento, sem que ele gere estresse para o paciente.
Conhecer a parte técnica do lúpus é essencial para que você cuide bem do paciente, ou, até mesmo, ajude a diagnosticar a doença. Entretanto, prezar pelo lado emocional e humano é crucial e, sem dúvidas, fará a diferença.
O lúpus na odontologia merece atenção e, por isso, o cirurgião-dentista deve aprimorar-se em estudos, leitura de pesquisas e outros momentos de aprendizado que possam contribuir para a experiência profissional.
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