O medo de dentista, ou odontofobia, é um problema comum para muitas pessoas. Em um estudo realizado em diversos países, 61% dos entrevistados afirmaram ter receio de ir ao consultório.
Conduzida pela DentalVox, a pesquisa ouviu 18 mil pessoas, sendo que os medos mais relatados foram a dor (39%), o cheiro dos produtos odontológicos (24%) e o som da broca de dentista (21%). Os resultados foram publicados no Dental Products Report.
A longo prazo, esses medos podem ser prejudiciais para a saúde bucal. Uma vez que as idas ao dentista são postergadas, os problemas bucais acabam se atenuando. Como profissional de odontologia, é dever prestar auxílio aos pacientes para que possam enfrentar o tratamento de uma forma positiva.
Confira, a seguir, as possíveis causas e dicas sobre como lidar com pacientes que possuem medo de ir ao dentista!
Fatores do medo de dentista
Os medos são reações que o corpo provoca diante de uma situação que pode ser interpretada como perigosa, sendo essa ameaça real ou não. Estão diretamente ligados ao instinto de sobrevivência.
No caso da odontofobia, esse receio pode surgir a partir de diferentes situações. Uma delas é a memória de uma experiência ruim, relacionando o consultório odontológico a um procedimento doloroso.
Alguns pacientes também temem o cheiro dos produtos odontológicos ou o som dos instrumentos, como a pesquisa mostrou. Em outros casos, mesmo que não haja uma memória real, o medo pode se originar do testemunho de outras pessoas, o que ocorre com frequência em crianças.
Como forma de autoproteção para que não aconteça novamente, o corpo cria resistência todas as vezes que é necessário retornar àquele local, e, consequentemente, àquela memória.
O medo de ir ao consultório também pode estar relacionado ao sentimento de perda de controle, de não saber lidar com a ansiedade e nem com a fobia de dentista, e o constrangimento de ter alguém mexendo em sua boca (sobretudo em situações de dentes em mau estado).
Gustavo Henrique Franciscato Garcia, mestre em Promoção de Saúde e professor da Unicesumar, explica que certas experiências causam trauma na infância, muitas vezes vindas de tratamentos complexos ou feitos por técnicas antiquadas.
Outro motivo que gera a odontofobia vem de um conceito antigo, de que dentistas eram vistos como “loucos”, pessoas sem escrúpulos e que faziam os outros sofrerem, assim como a ideia de que ir ao consultório é uma “medida punitiva” para crianças.
Odontofobia e pacientes de baixa renda
No estudo “Abordagem de pacientes com ansiedade ao tratamento odontológico no ambiente clínico”, foi constatada, ainda, uma conexão entre fobia de dentista e pacientes de baixa renda e escolaridade, que, consequentemente, acabam por frequentar o consultório com um grande espaço de tempo entre as consultas.
As pessoas acabam, então, entrando em um ciclo vicioso: a baixa renda faz com que elas tenham menos acesso aos profissionais, consequentemente, a saúde bucal é mais precária e, como resultado, os tratamentos serão mais urgentes e dolorosos, gerando uma experiência negativa e que influencia a ansiedade e o medo de dentista.
Ansiedade odontológica ou fobia?
Ansiedade odontológica e fobia parecem termos muitos similares, não é mesmo? E, de fato, há até quem os confunda e utilize para descrever a mesma situação. A verdade é que ambos são conceitos diferentes, em que o primeiro está ligado a uma situação específica, enquanto o segundo requer ajuda psicológica. Vamos entender melhor!
Ainda segundo o artigo “Abordagem de pacientes com ansiedade ao tratamento odontológico no ambiente clínico”, a ansiedade odontológica é um sentimento que surge do encontro com um objeto ou uma situação temida e é caracterizada por tensão, nervosismo, apreensão ou uma preocupação em relação às consultas com o cirurgião-dentista, sem necessitar de algum estímulo para essa sensação.
Já a fobia requer um diagnóstico por profissionais, pois é um transtorno mental relacionado a um medo excessivo que faz com que a pessoa evite uma situação específica ou um objeto. Esse episódio gera sofrimento emocional que precisa ser considerado, pois prejudica funcionalmente o indivíduo.
Fatores que geram ansiedade odontológica
As raízes da ansiedade nem sempre são provenientes de situações simples. Em alguns casos, os fatores podem ser o próprio contexto socioeconômico do paciente, a falta de informação ou um medo carregado desde a infância.
No caso desse último fator, o artigo “Medo, ansiedade e controle relacionados ao tratamento odontológico” explica que o medo faz parte do desenvolvimento infantil, é momentâneo e, em geral, não causa grandes impactos ao longo da vida. Entretanto, esse sentimento pode persistir, como a odontofobia, e acompanhar a pessoa por muitos anos.
Como lidar com pacientes com medo de dentista
Por não se tratar de algo racional, é ideal que o profissional de odontologia saiba lidar com o paciente de maneira especial. Esse cuidado contribui para amenizar o sentimento e criar um ambiente confortável para todos.
Trabalhe com a educação para a saúde bucal
A falta de acesso à informação ainda é uma barreira para muitos brasileiros. É comum que as pessoas sintam medo sem conhecer o tratamento ou porque ouviram algum conhecido compartilhar uma experiência de dor.
Portanto, foque sempre em transmitir com clareza os cuidados com a saúde bucal ao seu paciente. Você pode ensinar isso na consulta e entregar materiais sobre o assunto. Aproveite para abordar os impactos de uma boa rotina de limpeza da boca e como a falta desse cuidado tende a gerar situações complicadas.
Além disso, sempre explique cada etapa do tratamento, tire dúvidas e tenha a preocupação de ver com o seu paciente se ele compreendeu todas as etapas.
Aqui, é importante estar atento à linguagem corporal para perceber se em algum momento a pessoa demonstra nervosismo ou medo. Se sim, trabalhe com ela nesses pontos.
Prepare seu consultório odontológico
Muitas das pessoas que têm medo de dentista começam a se sentir mal já na sala de espera. Isso porque o ambiente é carregado de simbologias que remetem diretamente à fobia.
O professor explica que, por não serem sentimentos racionais, é importante que o cirurgião-dentista trate o paciente de forma especial para amenizar a situação e criar um ambiente confortável para ambos os lados.
“Pode-se, dessa forma, preparar a sala de espera com uma decoração que quebre aquele ambiente hospitalar; com música tranquila e, principalmente, uma equipe preparada para lidar não apenas com esse tipo de fobia, mas com todos os percalços da mente humana, tendo sempre paciência, compaixão e racionalidade”, sugere Garcia.
Portanto, busque construir um espaço que lembre menos um local de saúde. Disponibilize cadeiras confortáveis e uma televisão com programação interessante. Para as paredes, escolha cores e evite o branco.
O professor ainda indica que o cirurgião-dentista pode trocar o jaleco branco por um mais colorido e receber os pacientes sem os instrumentos à mostra. Para ele, detalhes básicos podem surtir efeito nas pessoas.
Dê atenção ao paciente
A relação entre cirurgião-dentista e paciente é um dos grandes instrumentos para reduzir o medo. Como profissional responsável, procure ter muita calma e explicar todos os procedimentos que serão necessários a fim de gerar maior tranquilidade.
Um dos pontos principais para estabelecer a conexão é o momento da triagem. A etapa é a hora ideal para começar a analisar episódios de ansiedade e medo. Caso você não consiga fazer, peça para um auxiliar realizar essa preparação, com o aferimento da pressão arterial e da frequência cardíaca.
Se for constatado ansiedade, acalme o seu paciente antes de iniciar o tratamento, converse com ele e descubra qual aspecto gera medo para que você possa trabalhar isso.
Quando a pessoa estiver mais calma, durante o tratamento, busque tirar o foco do paciente com outros elementos e afastar-se da ideia padrão do profissional. Uma cadeira do dentista que faz massagens ou uma televisão dentro do consultório podem ser pontos de distração.
Alguns dentistas usam técnicas de hipnose para induzir relaxamento nos pacientes. Nesse caso, é essencial ser um profissional qualificado e fazer apenas após o preparo necessário.
Em caso de crianças, converse com os pais
Como dissemos anteriormente, muitas vezes, o medo é transferido às crianças pelos próprios pais. Há aqueles que ficam ansiosos pelos filhos e sentem dificuldades em controlar isso, transmitindo insegurança aos pequenos. Há também quem use isso como uma forma de “educar” quando a criança faz algo errado.
O cirurgião-dentista deve conversar sobre essas questões e explicar que consultas odontológicas nunca devem ser utilizadas para pôr medo. É importante que os pais transmitam alegria, ânimo e expliquem, a partir de conversas didáticas, que é fundamental cuidar bem dos dentes.
Portanto, o cirurgião-dentista deve compreender que, além de toda a parte técnica que a profissão exige, é crucial manter um olhar humanizado de atenção aos sentimentos do paciente, já que ele pode trazer experiências negativas. Estudar métodos de medir a ansiedade e garantir o bem-estar é indispensável para consultas eficientes e tratamentos com bons resultados.
Garcia sugere que, para vencer o desafio da odontofobia e ansiedade odontológica, é preciso divulgar que o trabalho atual de um cirurgião-dentista não é o mesmo de 50 anos atrás.
“Houve uma modernização no atendimento, pensando sempre no conforto e na melhora do paciente.” De acordo com o professor, as pessoas precisam compreender que a ausência da saúde bucal pode levar à perda precoce de dentes, o que as deixará mais inseguras.
Use técnicas de relaxamento
Algumas técnicas de relaxamento podem ajudar a diminuir a ansiedade e tornar o atendimento odontológico mais tranquilo. Confira a seguir algumas ações para orientar odontofóbicos!
Respiração profunda
Focar na respiração pode ajudar a relaxar o corpo e a mente. Durante a consulta, o paciente pode tentar respirar profundamente pelo nariz, segurar por alguns segundos e expirar lentamente pela boca.
Visualização
Antes e no decorrer do procedimento, o paciente pode imaginar um lugar tranquilo e relaxante, como uma praia ou uma floresta. Essa técnica ajuda a distrair a mente e reduzir a ansiedade.
Relaxamento muscular progressivo
Consiste em tensão e relaxamento dos músculos do corpo. O paciente contrai um grupo muscular por vez e mantém até contagem de 10 a 15 segundos, e depois repousa.
Mindfulness
Técnica que envolve a atenção plena. Durante a consulta, o paciente pode tentar focar na sensação de respirar e no som dos instrumentos odontológicos, sem julgamentos. Isso ajuda a manter a mente presente no momento e reduz a ansiedade.
Música relaxante
O paciente pode ouvir músicas calmas e relaxantes antes e durante a consulta para diminuir a ansiedade e ajudar a distrair a mente. O dentista pode preparar o ambiente ou fornecer fones de ouvidos, que também ajudam a abafar os sons dos equipamentos.
Considere as inovações tecnológicas
Diversas tecnologias na área da odontologia podem auxiliar pacientes que sofrem com medo de dentista. Aparelhos e técnicas foram desenvolvidos com o objetivo de tornar o tratamento mais confortável e menos estressante, diminuindo a ansiedade.
Uma das ações é sedação consciente, que consiste na inalação de uma mistura de óxido nitroso e oxigênio, também conhecida como “gás do riso”. A técnica ajuda o paciente a não sentir dor durante o procedimento e ficar mais tranquilo.
A realidade virtual é outra tecnologia que pode ser utilizada por quem tem medo de dentista. A ideia é que o paciente utilize o dispositivo durante a consulta, para que possa se distrair e se sentir mais relaxado.
Os scanners intraorais, usados para capturar imagens tridimensionais da boca, agora estão disponíveis sem a necessidade de entrar em contato com a cavidade oral. Isso permite ao paciente uma experiência mais confortável e menos invasiva.
De acordo com estudo publicado pela Revista Gaúcha de Odontologia, o uso da anestesia ultrassônica colabora com a diminuição do medo e da ansiedade do paciente. O procedimento é menos dolorido, pois aplica-se o anestésico por meio de agulha guiada por ultrassom.
Em geral, as pontas desse estilo levam vantagem em relação aos instrumentos rotatórios e pontiagudos convencionais por proporcionarem menor pressão, ruído, vibração e aquecimento.
Recomende ajuda profissional
Há casos em que o nível de fobia do paciente é muito alto, e tentar tomar alguma atitude pode apenas piorar a situação. Nessa situação, recomende ajuda profissional.
Hoje, existem diferentes tipos de terapia que podem auxiliar a superar medos. Além de ser benéfico à saúde bucal, tratar essas questões pode trazer mais qualidade de vida.
Consequências da odontofobia a longo prazo
O grande problema decorrente da odontofobia é que algumas pessoas passam a não frequentar o dentista. Isso pode gerar diversos prejuízos à saúde bucal a longo prazo.
Veja abaixo alguns problemas que a falta de consulta odontológica pode acarretar:
- Doenças periodontais: devido ao acúmulo de placa bacteriana e tártaro nos dentes.
- Cáries e erosão dentária: a falta de higiene oral adequada leva à deterioração do esmalte dentário.
- Perda de dentes: em função da negligência na busca por tratamento de casos sérios e avançados. Consequentemente, pode ter impactos negativos na mastigação, na estética do sorriso e na autoestima do indivíduo.
- Problemas de saúde geral: certos problemas, como infecções dentárias não tratadas, podem espalhar-se para outras partes do corpo.
- Impacto emocional e psicológico: a odontofobia tem efeito significativo na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas afetadas.
Lidar com pacientes que têm medo de dentista pode ser um desafio para muitos profissionais da área. No entanto, é fundamental entender que a odontofobia é uma emoção real e válida. É papel dos dentistas proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para esses pacientes.
Cada pessoa é única, e o medo e a ansiedade podem ter diferentes causas e níveis de intensidade em cada caso. Portanto, é preciso personalizar o atendimento e adotar abordagens adaptadas ao indivíduo.
O bom relacionamento e o acolhimento dos clientes faz parte do gerenciamento do consultório odontológico. Por isso, estar informado sobre detalhes do dia a dia do negócio é essencial para seu bom funcionamento.
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Gostei muito das dicas.
Serei médica dentista e realmente estás dicas foram muito úteis. Continuem a postar mais em relação ao assunto.
Olá, Luzia! Como vai?
Ficamos muito felizes em saber que você quer se tornar uma cirurgiã-dentista! Desejamos muita sorte e luz na sua caminhada.
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