A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o novo coronavírus poderá nunca desaparecer, mesmo em um cenário com vacinas, já que seria necessário que elas apresentassem alta eficiência e todos tivessem acesso. Sem previsão para o fim da pandemia ou de como será o futuro, estamos longe de abandonar os novos hábitos, inclusive quando o assunto é biossegurança em odontologia.
O coronavírus mostrou que cuidados devem ser redobrados, desde a triagem até a limpeza e desinfecção do piso do seu consultório, e essas atitudes rotineiras serão lições a serem levadas para a prevenção também de outras doenças virais e bacterianas.
A biossegurança em odontologia ou outras áreas da saúde sempre foi um fator fundamental para diminuir riscos em procedimentos, mas o reforço da prática é uma nova realidade para o momento atual e pós-pandemia. Neste artigo, vamos repensar na importância dos cuidados para evitar outras doenças transmissíveis e falaremos de hábitos que ganham destaque para o “novo normal”.
Doenças virais e bacterianas: muito além do coronavírus
Uma das lições que o novo coronavírus deixa para a biossegurança em odontologia é o cuidado com doenças virais e bacterianas, que podem ser transmitidas no consultório. Além da Covid-19, com alto potencial de transmissão, é preciso considerar outras doenças, como HSV (vírus da herpes simples), vírus varicela zoster (VZV) e tuberculose. Vamos explicar melhor alguns conceitos de transmissão, confira:
- Transmissão vertical: acontece da mãe para o feto durante a gestação, parto vaginal ou amamentação.
- Transmissão horizontal: pode ser sexual ou não.
A transmissão horizontal não sexual, a que acontece dentro do consultório, pode ser por contato direto ou indireto, gotículas e vias aéreas. E há também aqueles vírus que podem ser transmitidos pelo sangue, como o da hepatite B, C e o HIV.
Quanto às rotas de transmissão, em resumo, são três:
- Contato direto: a contaminação é de uma pessoa diretamente para outra. Por exemplo, fluidos corporais, membrana mucosa, sangue ou lesão de HSV sem luva.
- Contato indireto: os patógenos são transmitidos através de objetos ou do corpo humano.
- Gotículas: podem carregar patógenos infecciosos e atingirem a mucosa nasal, conjuntiva e boca. Conforme a procedência (espirro, tosse ou conversa), elas podem atingir distâncias diferentes, até mesmo mais de seis metros de distância.
Apesar das práticas de biossegurança em odontologia já terem medidas de combate à disseminação de diversas doenças, após o coronavírus será necessário reforçar a reflexão de como contaminações podem acontecer e serem prevenidas para garantir o bem-estar da sua equipe, dos pacientes e das pessoas que, de alguma forma, mantêm conexão com elas.
Mudanças no design e na arquitetura
Um dos hábitos que desenvolvemos como prevenção ao novo coronavírus é que superfícies merecem atenção, já que o vírus sobrevive por algumas horas em diferentes materiais. Considerando esse contexto, sabemos que diversas pessoas tocando no mesmo local pode ser sinônimo de contaminação.
Portanto, uma das lições que herdamos da pandemia é o minimalismo em consultórios. Menos vasos, decorações e objetos que podem ser tocados. A recepção deve manter os pacientes confortáveis e afastados, respeitando o distanciamento de, no mínimo, um metro entre poltronas.
O álcool em gel, que anteriormente já era disponibilizado em algumas clínicas, passa a ser sempre presente, em dispenser com pedal para evitar o toque.
A biossegurança na pandemia ganha destaque até mesmo na recepção da clínica, focando em espaços mais vazios.
Foco na higienização do consultório odontológico
Anteriormente à pandemia, a higienização de todos os espaços da clínica podia ser feita em intervalos maiores. Mas uma das lições valiosas que aprendemos com o novo coronavírus é a importância de manter todos os locais limpos com o máximo de frequência. Lembre-se: é sempre importante partir do pressuposto que o paciente pode ter tido contato ou até mesmo estar infectado.
No pós-pandemia, a biossegurança em odontologia deve continuar contando com mais higienização da clínica: o ideal é que os espaços sejam limpos de 30 em 30 minutos e, de preferência, com detergente quaternário de quinta geração e mop. A higienização do local deve ser dividida em duas etapas, que são limpeza e desinfeção.
Para reforçar a limpeza, os tapetes pedilúvio com solução de hipoclorito ou detergente quaternário são excelentes para remover bactérias e outras sujeiras trazidas da rua. Mas atenção! Caso a manutenção não seja feita corretamente, ele pode se tornar um terreno fértil para bactérias. O excesso de matéria orgânica pode fazer com que o desinfetante perca a eficácia.
Triagem como parte da rotina de atendimento
Para que consultas pudessem ser realizadas com segurança durante a pandemia, uma nova etapa foi acrescentada ao atendimento odontológico: a triagem. Como já dissemos no início deste artigo, não há previsão para o fim da crise do novo coronavírus, o que torna as incertezas sobre um futuro seguro ainda maiores. Portanto, a precaução no pré-atendimento continua a ser válida.
A triagem pode ser feita em três etapas: na primeira, uma verificação de sinais e sintomas; na segunda, a checagem da chance de exposição; e na terceira, a análise dos grupos de risco. Vamos explicar melhor.
1ª etapa: sinais e sintomas
Já explicamos em um artigo anterior algumas perguntas que podem ser feitas na triagem, como sintomas de gripe, febre, tosse seca, etc. Entretanto, é necessário ir um pouco além e entender que nem sempre a febre está relacionada à Covid-19, ela também pode vir de uma causa odontológica, como infecções dentárias graves. Nesse caso, não há dúvidas de que o paciente deva receber o tratamento necessário. Está aí a importância de reconhecer sinais que indiquem um problema dentário ou coronavírus.
Separe um questionário que foque em sintomas da Covid-19, mas também entenda o histórico odontológico do paciente. Se ele já for atendido pela sua clínica, ficará mais fácil entender qual o caso.
2ª etapa: risco de exposição
Ainda na triagem, é importante compreender qual o risco de exposição. Por exemplo, imagine que você tem uma paciente que cumpre o isolamento social corretamente e não tem qualquer sintoma da Covid-19. Entretanto, o marido dela teve contato com pessoas com coronavírus. Ou então, o seu paciente é um profissional da saúde na linha de frente da pandemia. Sem dúvidas, ambas as situações podem apresentar risco de exposição. Nesses casos, também é preciso ter cuidado e solicitar ao paciente que aguarde mais um pouco para a consulta.
Protocolos de segurança devem ser estabelecidos para conter a disseminação do coronavírus dentro de consultórios.
3ª etapa: grupo de risco
A última etapa consiste em considerar o grupo de risco. Afinal, é importante que o cirurgião-dentista também se preocupe em proporcionar segurança e menos riscos ao paciente. Por exemplo, ao entender se a pessoa é de um grupo de risco, você pode agendar um horário especial para que ela tenha o menor contato possível com outras.
Outro objeto que tem sido indicado pela Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) para triagem é o oxímetro, que monitora o oxigênio no sangue. De acordo com pesquisas, muitas vítimas da Covid-19 sofrem com a hipóxia (baixo teor de oxigênio no sangue), portanto, é uma forma de perceber mais um dos sintomas da doença.
Entretanto, é importante saber que existem alguns outros fatores que contribuem para os valores mostrados no oxímetro, como hemoglobinas desproporcionais, luz do ambiente elevada e outros.
Manter os hábitos herdados durante a pandemia é fundamental para a biossegurança em odontologia. São pequenas atitudes que podem prevenir a disseminação do vírus pelo consultório e para mais pessoas fora desse espaço.
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