Desde 2008, a fitoterapia na odontologia é reconhecida e regulamentada como uma área de atuação, afinal, a prática é aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, também, há avanços nas políticas públicas focadas em práticas integrativas e complementares.
A fitoterapia é mais uma oportunidade de atuação para profissionais da odontologia e, neste conteúdo, te contamos o que você precisa saber para trabalhar com esse método no seu consultório. Boa leitura!
O que é fitoterapia?
Talvez você já tenha ouvido falar de fitoterapia, mas ainda não sabe muito bem do que se trata. Essa é uma prática que usa as plantas medicinais de diversas formas, por exemplo, em substâncias ativas isoladas, para a prevenção e o tratamento de muitos quadros.
Atualmente, a fitoterapia está prevista na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Ministério da Saúde e na Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia, além de disponível na Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), inclusive para a área odontológica.
Benefícios da fitoterapia na odontologia
Os benefícios dos fitoterápicos na odontologia, e em áreas da saúde de forma geral, já são estudados e, cada vez mais, o interesse em relação a esses produtos cresce. Isso porque eles oferecem menos efeitos colaterais do que os fármacos convencionais, o que desperta ainda mais a atenção dos profissionais.
Além da diminuição das reações adversas, o baixo custo, o fácil acesso, a biocompatibilidade e os resultados promissores dentro de pesquisas fazem da fitoterapia bastante benéfica.
Como é utilizada a fitoterapia em odontologia?
A fitoterapia pode ser utilizada de muitas formas dentro do consultório odontológico, mas é necessário que o dentista tenha conhecimento e esteja, de fato, habilitado para atuar com esse tipo de tratamento.
Entre as opções de uso das plantas medicinais está o controle de ansiedade. Acolher o paciente odontofóbico é crucial para garantir que essa pessoa continue a visitar o dentista e faça o tratamento completo. A fitoterapia pode ser uma boa ideia na hora de acalmar, humanizar o atendimento e auxiliar o indivíduo.
Outras alternativas são o uso das plantas para doenças periodontais, ulcerações aftosas, candidíase, controle de dor, cárie dentária, mucosite e produção de biomateriais.
Plantas medicinais e fitoterapia: indicações de uso
Você já percebeu que existe uma série de usos dentro do consultório. Agora, vamos conferir uma tabela que reúne plantas e funções, retirada do artigo “Fitoterapia na prática clínica odontológica”, da revista Fitos.
Nome popular | Nome científico | Indicações e funções |
Alecrim | Rosmarinus officinalis L. (Lamiaceae) | Candidíase e ardência bucal. Pomada orabase (associada ao capim-limão, 5% cada). Uso externo. |
Alecrim-pimenta | Lippia origanoides Kunth (=Lippia sidoides Cham.) (Verbenaceae) | Anti-inflamatório. Infusão ou tintura 20% como colutório para uso externo |
Arnica | Arnica montana L. (Asteraceae) | Edema na face. Creme a 10% para uso externo. |
Barbatimão | Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (=Stryphnodendron barbatimam (Vell.) Mart.) (Fabaceae) | Alveolite maxilar. Tintura a 20% para uso externo (lavagem local). Úlcera aftosa recidivante e úlceras traumáticas. Pomada em orabase (em associação com tanchagem, 5% cada). Hiperplasia fibrosa inflamatória (pré e pós-operatório), anti-inflamatório na gengivite e nas doenças periodontais. Tintura (em associação com tanchagem e calêndula). Hemostático, cicatrizante. Tintura (em associação com tanchagem e cavalinha). Hidratante e protetor epidérmico. Pomada em orabase (em associação a calêndula, 5% cada). Todas as preparações para uso externo |
Calêndula | Calendula officinalis L. (Asteraceae) | Anti-inflamatório. Infusão ou tintura 10% como colutório. Fístula na pele e processos inflamatórios da face. Creme a 10%. Hiperplasia fibrosa inflamatória (pré e pós-operatório), anti-inflamatório na gengivite e nas doenças periodontais. Tintura (em associação com tanchagem e barbatimão). Hidratante e protetor epidérmico. Pomada em orabase (em associação ao barbatimão, 5% cada) e em loção gel (em associação à camomila, 5% cada). Hidratante labial e na queilite (actínica e angular) em associação à cavalinha (5% cada). Todas as preparações para uso externo. |
Camomila | Matricaria chamomilla L. (Asteraceae) | Candidíase. Tintura 20%. Esfoliação dentária em crianças. Pomada em orabase a 5%. Hidratante, protetor epidérmico. Loção gel (em associação à calêndula, 5% cada). Todas as preparações para uso externo. |
Capim-limão | Cymbopogon citratus (DC.) Stapf (Poaceae) | Tratamento da ansiedade. Tintura a 20% para uso interno. Candidíase e ardência bucal. Pomada orabase (associada ao alecrim, 5% cada) para uso externo. |
Cavalinha | Equisetum arvense L. (Equisetaceae) | Hemostático, cicatrizante. Tintura (em associação com tanchagem e barbatimão). Hidratante labial e na queilite (actínica e angular). Hidratante (em associação à calêndula, 5% cada). Todas as preparações para uso externo. |
Copaíba | 9. Copaíba Copaifera spp. (Fabaceae) | Fístula na pele sem secreção. Creme (em associação com calêndula e barbatimão) para uso externo. Anti-inflamatório em processos agudos e procedimentos cirúrgicos. Cápsula do óleo 250 mg para uso interno. Curativo endodôntico e alveolite maxilar. Associado ao hidróxido de cálcio. |
Cravo-da-Índia | Syzygium aromaticum (L.) Merr. & L.M. Perry (Myrtaceae) | Anestésico local e antisséptico bucal. Óleo essencial em solução aquosa (1-5%) como colutório. Para uso externo |
Equinácea | Echinacea purpurea (L.) Moench (Asteraceae) | Herpes labial recorrente. Tintura a 20% para bochecho. Gel (em associação à melissa, 5% cada). Todas as preparações para uso externo. |
Guaco | Mikania glomerata Spreng. (Asteraceae) | Antisséptico bucal, controle da placa bacteriana. Tintura a 20% para bochecho, uso externo. |
Malva | Malva sylvestris L. (Malvaceae) | Anti-inflamatório e antisséptico. Infusão (flores e folhas) como colutório para uso externo. |
Melissa | Melissa officinalis L. (Lamiaceae) | Tratamento da ansiedade. Tintura para uso interno (associada à passiflora, 5% cada). Herpes labial. Creme a 10% ou gel (em associação à equinácea, 5% cada) para uso externo. |
Passiflora | Passiflora edulis Sims (Passifloraceae) | Tratamento da ansiedade. Tintura para uso interno (associada à melissa, 5% cada). |
Romã | Punica granatum L. (Lythraceae) | Anti-inflamatório e antisséptico. Infusão (cascas) como colutório. Úlcera traumática; estomatite, pericoronarite leve, abscesso periodontal, gengivite. Tintura (em associação à tanchagem). Genvivo-estomatite herpética aguda primária e manifestações bucais de viroses. Spray (em associação à tanchagem). Todas as preparações para uso externo. |
Sálvia | Salvia officinalis L. (Lamiaceae) | Anti-inflamatório e antisséptico. Infusão (folhas) como colutório para uso externo. |
Tanchagem | Plantago major L. (Plantaginaceae) | Anti-inflamatório e antisséptico. Infusão (partes aéreas) ou tintura a 10% (folhas) como colutório. Doenças periodontais agudas e crônicas, abscessos periapicais, aftas bucais e herpes, preparação para cirurgias e dor de dente. Tintura a 10% (folhas) como colutório. Úlcera aftosa recidivante e úlceras traumáticas. Pomada em orabase (em associação com barbatimão, 5% cada) e tintura (em associação com romã). Hiperplasia fibrosa inflamatória (pré e pós-operatório), anti-inflamatório na gengivite e nas doenças periodontais. Tintura (em associação com barbatimão e calêndula). Gengivo-estomatite herpética aguda primária (GEHAP) e quadros bucais de viroses. Spray (em associação à romã). Hemostático, cicatrizante. Tintura (em associação com barbatimão e cavalinha). Todas as preparações para uso externo. |
Como trabalhar com fitoterápicos na odontologia?
Assim como em outras especialidades odontológicas reconhecidas pelo CFO, a fitoterapia também deve seguir algumas regras para que o dentista trabalhe de forma segura e ofereça o melhor para o paciente, sempre por meio de embasamento científico.
O primeiro passo é ter o certificado da especialização emitido por instituições de ensino superior, entidades credenciadas pelo MEC e/ou CFO, órgãos de classe ou entidades de fitoterapia que estejam registradas no Conselho Federal de Odontologia.
O curso de especialização deve ter carga mínima de 160 horas e grade curricular dividida em conhecimento teórico e prático. Outro ponto importante é que o coordenador da formação deve ser um cirurgião-dentista habilitado em fitoterapia pelo CFO.
Fique, também, atento ao conteúdo programático oferecido pelo curso! A resolução CFO-82 deixa claro que a grade deve ser composta pelos seguintes temas:
- Antropologia e conceitos básicos do uso das plantas;
- Farmacobotânica e botânica taxonômica;
- Uso e manejo das plantas medicinais;
- Fórmulas farmacêuticas;
- Tópicos em farmacognosia;
- Toxicologia;
- Aplicações práticas laboratoriais e reconhecimento de campo nacional;
- Farmácias vivas e fitoterapia na atenção primária à saúde;
- Aplicabilidade das plantas medicinais nas afecções bucais;
- Hierarquia de evidências científicas;
- Pesquisa de campo;
- Conhecimento legal, com ênfase na Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapia.
Se você tem o interesse de se especializar nessa área, ao buscar por um curso, sempre tenha em mente essas informações para que, assim, consiga encontrar a melhor opção para investir.
Em um país rico em biodiversidade e com políticas que apoiam o trabalho com fitoterapia na odontologia, optar por este caminho pode ser uma boa ideia para se diferenciar no mercado de trabalho e oferecer aos pacientes tratamentos mais humanizados, com menos reações adversas e bastantes seguros.
Se você gosta de descobrir alternativas para a sua carreira, continue acessando conteúdos sobre novidades e dicas de tecnologia para o seu consultório no Blog da Surya Dental.
Referências:
MONTEIRO, M. H. D. A. Fitoterapia na odontologia: levantamento dos principais produtos de origem vegetal para saúde bucal. www.arca.fiocruz.br, 2014.
Vista do Fitoterapia na prática clínica odontológica: produtos de origem vegetal e fitoterápicos | Revista Fitos. Disponível em: <https://revistafitos.far.fiocruz.br/?journal=revista-fitos>. Acesso em: 24 jan. 2023.