A síndrome do respirador oral acontece com frequência durante a infância, mas pode trazer prejuízos em diferentes aspectos para os pacientes, que vão desde o desenvolvimento cognitivo até o físico.
O tratamento da síndrome é feito de forma multidisciplinar e conta com a participação do cirurgião-dentista, que vai acompanhar e cuidar de qualquer prejuízo para a saúde bucal. Neste conteúdo, vamos explicar aspectos importantes para o atendimento no consultório odontológico.
O que é a síndrome do respirador oral?
O nome é bastante explicativo e se refere a pacientes que fazem a respiração oral, ao invés da nasal. Para que o indivíduo se encaixe na síndrome, esse padrão deve se repetir por um período superior a seis meses.
O paciente nessa condição raramente vai respirar 100% de forma oral: na maioria dos casos, acontece o padrão misto (oral-nasal).
Vale destacar que a respiração pelo nariz tem papel fundamental no desenvolvimento correto do complexo crânio-facial, assim como protege as vias aéreas superiores e purifica o ar graças às estruturas existentes dentro da cavidade nasal, protegendo o organismo de partículas nocivas vindas do meio ambiente.
No vídeo do canal Patricia Patini, você pode compreender melhor como ocorre a respiração nasal e oral, e os prejuízos quando acontece de forma inadequada.
Causas
A maior causa da síndrome do respirador bucal é a obstrução nasal. Outros fatores apontados são: deformidades nasais e faciais, rinite alérgica, desvio de septo, tonsilas e conchas nasais e hipertrofia de adenoide.
Há, ainda, condições que podem ser associadas. São elas:
Síndromes craniofaciais | – Síndrome de Crouzon- Síndrome de Apert- Síndrome de Treacher-Collins- Síndrome de Goldenhar- Síndrome de Pierre Robin |
Doenças neurológicas | – Malformação de Arnold- Chiari- Meningomielocele- Paralisia cerebral- Distrofia muscular de Duchene |
Condições acompanhadas de tônus muscular anormal | – Síndrome de Down- Síndrome de Prader-Willi- Hipotireoidismo |
Condições que se associam comredução da patência das vias aéreassuperiores | – Rinite alérgica- Hipertrofia adenotonsilar- Obesidade- Anomalias craniofaciais- Macroglossia- Laringomalácia- Estenose subglótica- Mucopolissacaridose e outras doençasmetabólicas de depósito – Fenda palatina – Causas funcionais: sucção de bicos ededos, uso de mamadeira, falta dealeitamento materno. |
Sintomas
Os sintomas podem ser avaliados tanto por meio da anamnese como, também, pelo exame físico. Vale ressaltar que os sinais podem ser divididos entre diurnos e noturnos. Ao conversar com os pais ou responsáveis, lembre-se de levantar essa questão para conseguir respostas mais ricas e precisas.
Durante o dia, o paciente pode apresentar:
- Rendimento escolar prejudicado
- Dificuldades de deglutição
- Diminuição do apetite
- Déficit auditivo
- Dor de cabeça no período da manhã
- Dificuldades para despertar ao acordar
- Hiperatividade
- Sonolência ao longo do dia
- Infecções de vias aéreas frequentes
Já à noite:
- Dormir com a boca aberta
- Roncos
- Apneia
- Saliva no travesseiro
- Irritabilidade
- Dificuldade para dormir
- Sono agitado
- Respiração ruidosa
Manifestações bucais
A síndrome do respirador oral, como comentado, pode causar uma série de prejuízos para a saúde do paciente, inclusive, a bucal — que será o nosso foco neste tópico. O quadro é capaz de modificar o padrão de crescimento da face, gerar alterações dentárias, entre outros.
O paciente sofre modificações no posicionamento da língua no assoalho bucal, diminuição do tônus dos músculos da face que levam à hipoplasia maxilar e redução do crescimento da mandíbula (como consequência, ocorre o rebaixamento e a rotação posterior do maxilar).
No rosto, também ocorrem alterações, inclusive nos lábios. O inferior torna-se hipotônico e invertido, enquanto o superior mais curto. Além disso, o paciente, devido às alterações craniofaciais, fica com a face mais longa e estreita.
Os tecidos periodontais são afetados e apresentam maiores chances de ressecamento da mucosa, gengivite e periodontite por acúmulo de placa e recessão gengival.
O paciente também tem palato ogival, incisivos protruídos e desarmonias oclusais, como apinhamento, mordida aberta e cruzada posterior.
Papel do dentista no tratamento
Como você pode ter percebido, não são poucas as consequências que a síndrome causa ao paciente — e essas são apenas as alterações bucais, havendo outros riscos para a saúde da criança, tanto física quanto mental.
O tratamento é feito com o auxílio de diversos profissionais devido à complexidade da situação, afinal, é uma síndrome que atinge a respiração, que é um processo vital para qualquer pessoa.
O paciente, quando não recebe o devido tratamento, tem em risco as funções estomatognáticas (mastigação, deglutição, respiração e fonação), além de outras graves alterações morfofuncionais, patológicas e comportamentais.
É necessário, portanto, que a intervenção e o tratamento comecem o quanto antes, com a presença da equipe multidisciplinar.
O dentista, além de tratar as manifestações já comentadas, é crucial na orientação sobre a importância da amamentação, que deve ser feita para qualquer paciente. O aleitamento é o principal meio de prevenir a síndrome do respirador oral, já que oferece uma série de benefícios para os bebês, como o desenvolvimento das estruturas orofaciais.
Dessa forma, o cirurgião-dentista necessita adquirir conhecimento profundo a respeito do tema, para que seja capaz de desenvolver programas educativos-preventivos no local em que atua, com o objetivo de promover saúde e qualidade de vida.
Diagnóstico
Não há dúvidas de que o profissional de odontologia é peça-chave no diagnóstico. Por meio de diversas etapas, é possível identificar os sinais da síndrome e dar início à orientação dos pais ou responsáveis, assim como aos cuidados com o paciente.
1. Anamnese
O primeiro passo é a anamnese. Como comentamos, existem diversos fatores que são classificados como etiologia da síndrome. Começar por entender se o paciente se enquadra em algum dos grupos já é um bom início, assim como compreender quais os hábitos respiratórios da criança.
Perguntas importantes que devem compor o roteiro são:
- A criança foi amamentada no peito?
- Usou chupeta?
- Tem o hábito de chupar dedo?
- Alimenta-se bem?
- Mastiga corretamente os alimentos?
- Utiliza líquidos constantemente para ajudar na deglutição?
- Costuma tomar fôlego enquanto come?
- Dorme com a boca aberta?
- Ronca?
- Baba no travesseiro?
- Tem rinite alérgica, bronquite, asma ou outra doença respiratória?
- Tem mau hálito com frequência?
- Range os dentes durante o sono?
- É ansioso, agitado e apresenta dificuldades de concentração?
- Tem sono constantemente?
- Apresenta problemas escolares?
2. Exame clínico
Agora, chegou o momento da avaliação facial. Já comentamos que a síndrome apresenta diversos sintomas, e um deles é o desenvolvimento assimétrico de músculos faciais, maxila e mandíbula, além de alterações em lábios, bochechas e língua.
Outras características faciais são olhos com aparência caída, olheiras, face alongada, lábios ressecados, nariz pequeno e afilado, além daquelas que citamos nos tópicos anteriores.
As amígdalas também devem ser avaliadas para conferir se há hipertrofia amigdaliana. Além disso, analise as características bucodentais para identificar se há mordida aberta anterior, protusão dos incisivos superiores, maxila atrésica, palato ogival e mordida cruzada posterior.
3. Testes de respiração nasal
Há alguns testes que podem auxiliar o dentista a entender melhor a situação do paciente. Um deles é utilizar um refletor que será colocado abaixo da narina do paciente e verificar em qual das faces do objeto há presença de vapor.
Caso seja na superior, o pequeno faz a respiração nasal. Na inferior ou inferior + superior, há presença do uso da boca.
Atenção: este teste não é sinônimo de diagnóstico, afinal, se a criança estiver resfriada, pode não oferecer uma resposta concreta. Nesse caso, convém repetir a prova em um dia que ela esteja bem.
4. Avaliação radiográfica
A avaliação radiográfica cefalométrica de perfil permite ao dentista perceber aspectos importantes como adenóides aumentados.
5. Análise da postura
Esta é uma opção de exame complementar. A criança com síndrome do respirador oral tem ombros caídos, abdômen proeminente e escápulas salientes. É claro que a avaliação da postura é uma parte do tratamento que pertence ao fisioterapeuta, mas o dentista pode ficar atento a esses sinais.
Tratamento para respiradores orais
O tratamento depende de alguns fatores, como as alterações já existentes e a etiologia. A depender, a equipe multidisciplinar pode ser composta por otorrinolaringologista, odontopediatria/ortodontista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta. É bastante importante que todos os profissionais envolvidos possam estar em contato para compreender a visão de cada área.
Os resultados são muito positivos quando o diagnóstico é precoce e preciso, assim como o tratamento é feito de forma multidisciplinar para evitar a recidiva do caso.
Chegamos ao fim deste conteúdo e esperamos que você tenha conseguido tirar boas informações do atendimento aos pequenos e da síndrome. Mantenha-se atualizado e assine a nossa newsletter abaixo!
Referências bibliográficas:
FRANCESCO, Renata C. di; PASSEROTII, Gustavo; PAULUCCI, Bruno; MINITI, Aroldo. Respiração oral na criança: repercussões diferentes de acordo com o diagnóstico. Revista Brasileira de Otorrinolaringologista, [S. L.], v. 70, n. 5, p. 665-670, set. 2004.
MENEZES, Valdenice Aparecida de; TAVARES, Ricardo Luiz de Oliveira; GRANVILLE-GARCIA, Ana Flávia. Síndrome da respiração oral: alterações clínicas e comportamentais. Arquivos em Odontologia, Belo Horizonte, v. 45, n. 3, p. 160-165, abr. 2009. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/arquivosemodontologia/issue/view/197. Acesso em: 23 nov. 2022.
QUINTÃO, Flávia Campos; ANDRADE, Denise Campos; LAGÔA, Lívia Cristina. A síndrome do respirador oral, suas influências na postura e a atuação da fisioterapia. 2004. Monografia (Graduação) – Curso de Fisioterapia, Unipac, Barbacena, 2004.