A perda parcial de dentes continua sendo uma das situações clínicas mais comuns no consultório odontológico. Para lidar com esses casos de forma precisa, é importante contar com sistemas de classificação que ajudem a definir o melhor tipo de prótese a ser indicada. Um dos mais usados nesse processo é a classificação de Kennedy.
Criada para organizar os diferentes tipos de arcadas parcialmente desdentadas, ela divide os casos em quatro grupos principais, com base na localização e na extensão das áreas sem dentes. Isso permite que o profissional tenha um ponto de partida mais claro ao planejar próteses parciais removíveis (PPR).
Neste artigo, você vai entender o que é a classificação de Kennedy, como ela se aplica na prática clínica, quais são suas modificações e como usá-la para indicar a melhor solução para seus pacientes. Continue a leitura e aproveite o conteúdo completo!
O que é a classificação de Kennedy?
A classificação de Kennedy é um sistema utilizado na odontologia para identificar e categorizar as combinações das arcadas parcialmente desdentadas. O objetivo é facilitar o planejamento e o projeto de próteses dentárias para pacientes que possuem dentes ausentes em apenas algumas áreas da boca.
O sistema divide as arcadas parcialmente desdentadas em quatro grupos principais, baseando-se na localização e extensão dos espaços edêntulos. Essa abordagem permite uma comunicação eficaz entre os profissionais de odontologia, incluindo dentistas, técnicos em prótese dentária e outros especialistas, e auxilia na escolha do tipo de prótese mais adequado para cada caso.
Classe I – Ausência bilateral de dentes posteriores
A Classe I refere-se a arcos edêntulos bilaterais com áreas desdentadas posteriores. Ou seja, não há dentes posteriores em ambos os lados do arco, mas os dentes anteriores estão presentes. Essa configuração é comum em pacientes que perderam os molares e pré-molares posteriores, mantendo os dentes anteriores intactos.
A prótese parcial removível indicada para essa classe geralmente é dentomucossuportada, exigindo cuidados específicos no planejamento para distribuir adequadamente as forças mastigatórias e preservar os tecidos de suporte.
Classe II – Ausência unilateral de dentes posteriores
A Classe II descreve um arco edêntulo unilateral, onde apenas um lado apresenta área desdentada posterior. Nesse caso, os dentes anteriores e os dentes posteriores do lado oposto estão presentes.
Essa configuração requer atenção especial no planejamento da prótese parcial removível, pois a distribuição assimétrica das forças mastigatórias pode impactar a estabilidade, a retenção da prótese e o funcionamento da boca. A utilização de apoios e grampos adequados é fundamental para proporcionar conforto e funcionalidade ao paciente.
Classe III – Espaço edêntulo limitado por dentes adjacentes
A Classe III caracteriza-se por um espaço desdentado unilateral, mas com dentes naturais presentes anterior e posteriormente ao espaço desdentado, criando um limite mais definido. Essa configuração permite a confecção de próteses parciais removíveis dentossuportadas, oferecendo maior estabilidade e retenção.
O planejamento deve considerar a posição e a condição dos dentes adjacentes, garantindo uma distribuição equilibrada das forças mastigatórias e preservando a integridade dos tecidos de suporte.
Classe IV – Ausência de dentes anteriores cruzando a linha média
A Classe IV é usada para descrever arcos com áreas desdentadas localizadas na região anterior, atravessando a linha média e sendo bilaterais. Essa configuração apresenta desafios estéticos e funcionais, exigindo um planejamento cuidadoso para restaurar a estética do sorriso e a função mastigatória.
A prótese parcial removível deve ser projetada para se integrar harmoniosamente com os dentes remanescentes, proporcionando conforto e naturalidade ao paciente.

Importância da classificação no planejamento odontológico
A classificação de Kennedy desempenha um papel fundamental no planejamento odontológico, pois permite uma avaliação sistemática das condições do arco dentário.
Ao categorizar os tipos de edentulismo, os profissionais podem determinar o tipo de prótese mais adequado, avaliar a distribuição das forças mastigatórias, considerar aspectos estéticos e funcionais, simplificar o planejamento e facilitar a comunicação entre os membros da equipe odontológica.
Essa abordagem estruturada contribui para tratamentos mais personalizados, atendendo às necessidades específicas de cada paciente.
Escolha adequada da prótese parcial removível
A classificação de Kennedy auxilia na escolha do tipo de prótese parcial removível mais apropriada para cada caso. Ao identificar a classe do arco edêntulo, o profissional pode decidir entre próteses dentossuportadas, mucossuportadas ou dentomucossuportadas, considerando estabilidade, retenção e conforto para o paciente. Essa decisão impacta diretamente na eficácia do tratamento e na satisfação do paciente com a prótese.
Distribuição eficiente das cargas mastigatórias
A distribuição adequada das forças mastigatórias é essencial para a longevidade da prótese e a saúde dos tecidos de suporte. A classificação de Kennedy permite ao profissional avaliar a posição dos dentes remanescentes e planejar a prótese de forma a equilibrar as cargas, evitando sobrecargas em áreas específicas e prevenindo possíveis complicações, como reabsorção óssea ou mobilidade dentária.

Equilíbrio entre estética e funcionalidade
A restauração da estética e da função mastigatória é um dos principais objetivos do tratamento protético. A classificação de Kennedy orienta o planejamento da prótese, permitindo ao profissional considerar a posição dos dentes ausentes e remanescentes, a linha do sorriso e a oclusão.
Dessa forma, é possível confeccionar próteses que se integrem harmoniosamente ao sorriso do paciente e restabeleçam a eficiência mastigatória.
Facilidade na comunicação entre profissionais
A classificação de Kennedy facilita a comunicação entre os membros da equipe odontológica. Ao utilizar uma terminologia padronizada, todos os envolvidos no tratamento podem compreender rapidamente as características do caso, discutir opções terapêuticas e colaborar de forma eficiente na confecção da prótese, promovendo um atendimento integrado e de qualidade ao paciente.
Simplificação do planejamento clínico
A utilização da classificação de Kennedy simplifica o processo de planejamento protético, proporcionando uma estrutura clara e objetiva para a avaliação do caso. Com base na classe identificada, o profissional pode seguir protocolos estabelecidos, selecionar os componentes protéticos adequados e antecipar possíveis desafios, otimizando o tempo e os recursos envolvidos no tratamento.
Benefícios da aplicação correta para o paciente
A aplicação da classificação de Kennedy no planejamento protético traz diversos benefícios ao paciente. Ela contribui para:
- Planejamento adequado do tratamento;
- Confecção de próteses mais confortáveis;
- Próteses estáveis e esteticamente agradáveis;
- Melhora a função mastigatória e a fonética;
- Preserva os tecidos de suporte e os dentes remanescentes;
- Proporciona uma experiência de tratamento mais eficiente e personalizada.
Esses fatores impactam positivamente na qualidade de vida do paciente e na saúde bucal, promovendo bem-estar e satisfação com o resultado obtido, além de uma estética natural e harmoniosa.
Classificação de Kennedy e modificações
A classificação de Kennedy é topográfica, ou seja, analisa apenas a imagem com espaços sem dentes. Assim, quando existem casos diferentes das classes, são consideradas como modificações. Elas são categorizadas da seguinte maneira:
- Modificação 1 da classe I: ausência de um novo elemento;
- Modificação 2 da classe I: ausência de dois novos elementos;
- Modificação 1 da classe II: ausência de um novo elemento;
- Modificação 2 da classe II: ausência de dois novos elementos;
- Modificação 1 da classe III: apresenta uma nova ausência intercalar;
- Modificação 2 da classe III: apresenta duas novas ausências intercalares;
- Não há modificações para a classe IV.

Regras de Applegate
Em 1935, Applegate propôs um conjunto de 8 regras para complementar a classificação de Kennedy, visando maior precisão na categorização dos arcos desdentados. São elas:
- O espaço mais posterior é o que determina a classificação;
- Áreas adicionais ao espaço protético são consideradas modificações ou subclasses;
- A modificação é determinada pelo número de espaços, não pela extensão;
- A classe IV não possui modificações;
- As classificações devem ser o preparo da boca para recebimento da prótese;
- Quando há ausência de terceiros molares, desconsidera-se a região na classificação. A situação muda em casos de reposição de próteses;
- O terceiro molar é considerado para classificação se for dente pilar ou base de suporte;
- Na ausência do segundo molar, não se considera o espaço na classificação.
Essas regras proporcionam uma abordagem mais sistemática e consistente no planejamento de PPRs, facilitando a comunicação entre os profissionais e a escolha adequada dos componentes protéticos.
Casos complexos e a necessidade de abordagens complementares
Embora a classificação de Kennedy seja amplamente utilizada, ela apresenta limitações em casos clínicos mais complexos. Situações que envolvem múltiplas áreas edêntulas não contíguas, dentes remanescentes com comprometimento periodontal ou necessidade de suporte adicional podem não ser adequadamente categorizadas por esse sistema.
Nesses casos, recomenda-se a utilização de classificações complementares ou abordagens individualizadas que considerem fatores anatômicos e funcionais específicos, proporcionando um planejamento protético mais abrangente e personalizado.
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Integração com outras classificações e sistemas protéticos
Para superar as limitações da classificação de Kennedy, diversos sistemas complementares foram desenvolvidos, como as classificações de Cummer, Wild e ACP. Esses sistemas consideram aspectos adicionais, como o tipo de suporte (dental, mucoso ou misto), a relação dos dentes pilares com o rebordo alveolar e a complexidade do caso clínico.
A integração dessas classificações permite uma análise mais detalhada das condições do paciente, auxiliando na escolha da prótese mais adequada e na previsão de possíveis desafios durante o tratamento.
Compreender a classificação de Kennedy e suas modificações é fundamental para o planejamento eficaz de próteses parciais removíveis. Esse sistema facilita a comunicação entre profissionais e contribui para a elaboração de tratamentos mais precisos e personalizados.
Ao aplicar corretamente essa classificação, é possível otimizar a distribuição de cargas, melhorar a função mastigatória e atender às expectativas estéticas dos pacientes.
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