Desde 2015, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) autorizou a homeopatia na odontologia como especialidade, ampliando o campo de atuação dos profissionais e permitindo que outros métodos pudessem ser utilizados enquanto terapias para auxiliar em procedimentos.
Por ser um assunto recente na área, é normal que muitos cirurgiões-dentistas ainda tenham dúvidas e não saibam ao certo como implementar a terapia na rotina do consultório ou, até mesmo, não conheçam o suficiente do conceito, já que é uma prática comum dentro de áreas holísticas e que, agora, começa a fazer parte da odontologia.
Se você faz parte desse grupo, continue a leitura e descubra mais como usar a terapia no consultório e como adicionar essa especialidade no seu currículo.
O que é homeopatia?
Desde 2006, o SUS passou a incluir terapias complementares à lista de tratamentos oferecidos por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), entre elas, a homeopatia.
A terapia, portanto, faz parte da área holística, grupo de práticas que buscam tratar o ser humano considerando-o como um todo, ou seja, o diagnóstico não fica apenas na patologia, mas procura entender questões emocionais, psicológicas, sociais, entre outras.
De acordo com o artigo “Aplicação da homeopatia na odontologia”, a técnica foi desenvolvida há 200 anos pelo médico alemão Samuel Hahnemann e é estruturada por quatro pilares, são eles:
- Princípio de cura pela similitude
- Experimentação de medicamentos em indivíduos sadios
- Uso de medicamentos dinamizados
- Prescrição de medicamentos individualizados
Considerando esses quatro aspectos, o profissional vai diagnosticar o paciente além da patologia e tratá-lo com medicamentos homeopáticos, que, em resumo, são feitos a partir de substâncias que geram sintomas semelhantes aos que ele já tem, mas diluídos em diversas vezes na água.
Odontologia homeopática: como utilizar no consultório?
A homeopatia na odontologia pode ser utilizada das mais diversas formas: para lidar com pacientes ansiosos, prevenir doenças e manifestações orais, entre outros. De acordo com o CFO, o objetivo do uso dessa terapia deve ser de prevenção, diagnóstico, prognóstico e tratamento da boca, assim como melhorar a vida da pessoa atendida e para complementar as demais especialidades.
Mas como isso funciona na prática? Vamos entender melhor em seguida.
Anamnese
Impossível não citar a anamnese. Assim como nos tratamentos convencionais, ela também é essencial para a homeopatia, especialmente por ser uma prática que se preocupa com diversos aspectos relacionados ao paciente.
É importante lembrar que a anamnese para bebês, crianças, adolescentes e adultos é diferente, justamente por ser etapas distintas da vida, em que nossos sentimentos e comportamentos variam bastante.
Para os bebês, é necessário incluir alguns pontos na anamnese, como:
- Como é o sono? O bebê ri, chora, geme? O sono é mais tranquilo quando está enrolado em cobertores? Qual a posição que fica? Quantas horas dorme e em que período acorda? Como é o processo para dormir?
- Sobre as mamadas, o comportamento muda quando alguém está por perto? Mama rapidamente ou tranquilamente?
- Como é a relação com pai, mãe, avós, irmãos etc?
- Como estavam a mãe e o pai, mentalmente, durante o período da gestação? E individualmente agora?
- O período da dentição foi tranquilo? E o das vacinas?
Para crianças de 1 a 4 anos:
- Como é o temperamento da criança? Como lida com o choro?
- Dorme bem?
- Quais as brincadeiras favoritas e como gosta de brincar?
- Como reage quando machuca outras crianças ou erra?
- Do que tem medo?
Já para a faixa etária dos 5 aos 10, algumas questões importantes são:
- Tem amigos? Como são essas relações?
- Como se relaciona com irmãos, animais e objetos?
- Quais são os gostos pessoais?
- Como foi a infância?
- Como são os hábitos alimentares?
Em relação aos adolescentes e adultos:
- Em quais momentos do dia se sente menos bem?
- Quais os hábitos alimentares?
- Como são os seus hábitos de sono?
- Que experiências foram desagradáveis na sua vida?
- A quais situações é mais sensível?
Esses são apenas alguns exemplos de perguntas, mas, claro, conforme o especialista em homeopatia se aprofunda, você vai entender o que vale ou não a pena incluir, quais são as questões ideais etc.
É importante que, nesse momento, você pratique a escuta ativa, não crie julgamentos sobre as respostas do seu paciente e busque encontrar uma oportunidade de conexão e confiança.
Lembre-se que apesar de criar uma anamnese focada em homeopatia, é fundamental não abrir mão dos métodos convencionais, focados em aspectos odontológicos.
Manifestações bucais
Além de ser uma aliada para acalmar pacientes com medo e ansiedade, a homeopatia também cabe a outros casos. De acordo com o artigo “Uso de terapias alternativas no consultório odontológico”, a prática pode ser utilizada para doenças periodontais, abscessos periodontais e endodônticos, nas inflamações da polpa e em lesões bucais.
A homeopatia também pode ser aplicada no pré-operatório, como uma forma de garantir um pós-operatório melhor considerando dores, sangramento e edema.
O artigo explica que a terapia também já foi utilizada para dores e disfunções da articulação temporomandibular.
Na revisão “Aplicação da homeopatia na odontologia”, consta que o método pode auxiliar crianças que sofrem de bruxismo, uma vez que a manifestação está relacionada à ansiedade e, dessa forma, a terapia pode ser muito eficaz.
O trabalho apresenta outros casos que tiveram resultados positivos com o uso da homeopatia em erupção dentária, estomatite viral infantil, exodontias e outros.
Homeopatia aplicada à odontologia é eficaz?
Um dos grandes embates em torno da homeopatia é sua eficácia. De um lado, muitos defendem a prática, já que conseguiram registrar resultados significativos. De outro, há quem ainda veja a terapia como um placebo.
Em algumas literaturas da área, como as citadas neste texto, você vai encontrar profissionais que acreditam ser uma terapia pertinente e eficaz que, inclusive, é reconhecida como especialidade da medicina.
Paralelo a isso, o estudo “Homeopatia: terapia alternativa ou placebo?” aponta que a eficácia do tratamento ainda não tem embasamento suficiente e muitas pesquisas o colocam como um placebo.
Entretanto, o artigo destaca que a homeopatia está relacionada à humanização dos tratamentos, da relação com o profissional da saúde e, portanto, influencia positivamente a expectativa do paciente, estimulando a atividade de algumas regiões cerebrais e gerando efeitos terapêuticos.
Homeopatia na odontologia: cursos
Para tornar-se um cirurgião-dentista homeopata, é necessário ir além da faculdade de odontologia e buscar por cursos de especialização e imersão. Para ajudá-lo, fizemos uma lista:
Instituto Homeopático e de Práticas Integrativas (IHPI)
Desde 1981, o IHPI trabalha focado no desenvolvimento da homeopatia no Brasil, por meio de cursos para diversas áreas, incluindo odontologia.
A especialização para cirurgiões-dentistas tem duração de um ano e acontece em um fim de semana por mês. O curso é focado em auxiliar especialidades, como odontopediatria, odontogeriatria, endodontia, dentística, periodontia, ortodontia e cirurgia.
O conteúdo programático prevê:
- História, filosofia e fundamentos da homeopatia;
- Conceitos de saúde e doença;
- Doenças agudas e doenças crônicas;
- Noções de farmacotécnica homeopática e de pesquisas aplicadas;
- Farmacologia e matérias médicas homeopáticas;
- Semiologia, clínica homeopática e prescrição homeopática.
Centro de especialização em homeopatia de Londrina (CEHL)
O curso do CEHL acontece a distância, em tempo real e durante uma hora por semana. A duração da especialização é de dois anos, incluindo atividades ambulatoriais.
A CEHL estruturou o curso considerando as diretrizes do CFO e da Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas Homeopatas (ABCDH).
Instituto Hahnemanniano do Brasil (IHB)
Fundado em 1859, o IHB é pioneiro em homeopatia no Brasil e oferece cursos para diversas áreas que possam se beneficiar da terapia.
A especialização na área de odontologia tem duração de dois anos e conta com as seguintes disciplinas:
- Filosofia homeopática;
- Semiologia homeopática;
- Farmacotécnica homeopática;
- Matéria médica homeopática;
- Clínica e terapêutica homeopática;
- Metodologia da pesquisa científica e prática ambulatorial.
A homeopatia na odontologia requer diversos estudos para que a terapia seja aplicada de forma consciente, sem prejudicar o tratamento convencional e que, de fato, traga efeito terapêutico para o paciente.
Se você gostou deste conteúdo sobre especialidade odontológica, não deixe de assinar a nossa newsletter para receber mais dicas e informações sobre áreas de atuação. Basta preencher o formulário abaixo!