A odontogeriatria é a área da odontologia especializada em atender pacientes idosos. Isso significa que o profissional desse ramo é focado em estudar fatores da saúde bucal que estão relacionados à idade avançada e também em atuar dentro de estratégias multidisciplinares que visam promover bem-estar a essa fatia da população.
Desde 2002, a odontogeriatria é considerada uma especialidade e, de acordo com o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), ainda está em desenvolvimento e conta com poucos profissionais dedicados exclusivamente a ela.
Apesar de muitos consultórios e profissionais não especializados na área atenderem pacientes geriátricos, aprofundar os estudos nesse ramo pode ser um grande diferencial e uma forma segura de promover saúde. Continue a leitura e saiba mais!
Odontogeriatria: uma profissão do futuro
Se antes o grande foco de diversos mercados eram as crianças, agora, isso tende a mudar. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de idosos no Brasil deve chegar a 25,5% da população até 2060. Ou seja, um crescimento dessa fatia, considerando que em 2018 a porcentagem é de 9,2%.
Outro estudo, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mostra que, a nível mundial, em 1950, o número de idosos acima de 60 anos era de 202 milhões. Em 2020, esse total passou a ser de 1,1 bilhão e, em 2100, a expectativa é de 3,1 bilhões.
Agora, ao trazermos o estudo para um recorte no Brasil, em 1950, a população de mais de 60 anos era de 2,6 milhões. Em 2020, o número foi para 29,9 milhões e, em 2100, deve atingir 72,4 milhões.
Outro dado importante trazido pelo IBGE é o aumento da expectativa de vida. Em 2019, houve alta de três meses, deixando a média em 76,6 anos. Dividindo por sexo masculino e feminino, o primeiro tem a expectativa de 73,1, enquanto as mulheres, de 80,1.
E, afinal, o que faz aumentar a expectativa de vida? O IBGE explica que os fatores podem ser diversos, como o acesso ao saneamento básico, o crescimento econômico, a alimentação e outros pontos essenciais que medem a qualidade de vida.
Pensando em todos esses aspectos, a odontogeriatria se torna mais uma das atividades importantíssimas para melhorar a saúde e a qualidade de vida.
O aumento de pacientes idosos também é sinônimo do crescimento de diversas manifestações bucais muito específicas desse grupo, como veremos mais à frente.
Importância da odontologia na saúde bucal da terceira idade
Alcançar a senioridade com uma boa saúde bucal pode ser um verdadeiro desafio. Se pensarmos nas pessoas idosas que conhecemos, com certeza nos lembraremos de algumas que utilizam próteses ou perderam dentes.
De acordo com o artigo “Estratégias preventivas em odontologia”, a saúde bucal precária em pacientes idosos é algo histórico por diversos motivos, como o despreparo dos profissionais para atender as demandas específicas desse grupo, a má distribuição de cirurgiões-dentistas pelas regiões mais carentes e, até mesmo, questões relacionadas à saúde geriátrica.
Com a aposentadoria, os idosos ficam mais ociosos e, consequentemente, começam a surgir problemas relacionados à saúde física e, inclusive, à psicológica, já que a tendência é o isolamento.
Ainda segundo o artigo, no Brasil, a situação geral da saúde bucal dos idosos pode ser considerada grave, especialmente por conta do edentulismo. Como consequência, o paciente terá mastigação, digestão e deglutição afetada, além da fala, que também fica prejudicada, e a questão estética, que pode interferir de forma emocional e psicológica no idoso.
Dessa forma, a atenção à saúde bucal do paciente geriátrico é fundamental para proporcionar bem-estar, qualidade de vida e, até mesmo, inclusão social.
Quais as áreas de atuação da odontogeriatria?
Se essa é uma área de especialização com tanto potencial, quais são os espaços que os profissionais de odontologia podem atuar?
Um ponto positivo sobre o ramo é que existem diversas opções de atuação. De acordo com o documento “Odontogeriatria: uma nova opção de trabalho no século XXI”, as áreas são:
- Consultórios particulares: atender essa faixa etária requer conhecimentos específicos por parte do cirurgião-dentista e toda a equipe. Além disso, o espaço deve ter estrutura para o atendimento.
- Tratamentos domiciliares: uma ótima opção quando pensamos em idosos com dificuldade para se locomover. Além disso, é uma boa oportunidade para incluir familiares e cuidadores nos tratamentos.
Atendimento institucional: dentro de lares e outras organizações de acolhimento que sejam particulares ou governamentais. - Hospitais: pode ser em UTIs, tratamento a pacientes oncológicos, ambulatórios e outros grupos específicos.
- Instituições: entidades filantrópicas, religiosas e outros tipos de grupos que oferecem atendimento à comunidade.
- Promoção de Saúde da Família (PSF): atendimento domiciliar a comunidades em situações mais precárias, como periferias e regiões rurais.
- Formação técnica de cuidadores: participar no corpo docente de cursos voltados para cuidadores e auxiliares de enfermagem.
Como podemos ver, não faltam opções de trabalho para essa área. E, com o aumento significativo da população, esse leque pode se estender.
Pacientes geriátricos no consultório: como atender
O atendimento ao paciente deve considerar diversos aspectos, como a anamnese, as condições físicas do idoso, os cuidados preventivos e o conhecimento de manifestações comuns nesse grupo.
Esse conjunto de aspectos pode ser decisivo para garantir que o paciente geriátrico tenha a saúde bucal em bom estado.
Anamnese
Não há dúvidas de que a anamnese é a base de um bom tratamento. Além de tudo, ela é essencial e garante a prevenção de muitas urgências médicas no consultório odontológico.
Na odontogeriatria, o documento se torna ainda mais importante. Afinal, o público idoso costuma vir acompanhado de diversas comorbidades e fazer uso de medicamentos frequentemente.
Ao fazer a anamnese, é necessário, primeiramente, ser compreensível e cauteloso. Os idosos podem não se lembrar de algumas doenças ou medicamentos, até mesmo não considerar importante e, por isso, não relatar.
O primeiro contato com esse paciente deve ser extremamente humanizado e requer sagacidade para manter um diálogo que o auxilie a descobrir pontos fundamentais. Lembre-se que a saúde bucal tem ligação muito íntima com as condições sistemáticas.
Alguns pontos que devem ser destacados na anamnese são:
- Hábitos de fumante
- Uso de medicamentos (como hidantoína, nifedipina, ciclosporina)
- Diabetes
- Síndromes genéticas
- Estresse
- Anormalidades em neutrófilos
- Menopausa, no caso das mulheres
Antes mesmo de fazer a primeira consulta, convém certificar-se de que o paciente tem condições para passar pela anamnese sozinho. Se sim, peça que ele traga as receitas, o nome das medicações que toma, os laudos e outros documentos que possam ajudá-lo a recordar-se.
Caso essa pessoa não tenha condições, é essencial a presença de um acompanhante.
Estrutura do consultório
Profissionais que optam por atuar com a odontogeriatria devem considerar um fator essencial: a estrutura do consultório. Isso é importantíssimo quando falamos de pacientes idosos, até mesmo porque essas pessoas são mais acometidas por limitações em diversos aspectos.
Portanto, se você escolher atuar nesta área, lembre-se de garantir que o seu consultório é acessível. Pessoas idosas podem ter uma série de limitações físicas que as impede de subir escadas, empurrar portas e outras situações.
Dessa forma, certifique-se de oferecer rampas pouco inclinadas, banheiros acessíveis, portas fáceis de serem abertas, letras maiores em cartazes e placas, elevadores e outros.
O ambiente também deve ser calmo, por isso, evite barulhos e outros ruídos que possam incomodar o paciente ou, até mesmo, interferir no aparelho auditivo e gerar mal-estar.
Além disso, lembre-se de tornar o espaço confortável. A recepção, por exemplo, deve ter poltronas macias e com altura suficiente para que os idosos sentem-se, mesmo tendo dificuldades em dobrar as pernas.
A máquina de café também deve ser fácil de manusear, já que as mais modernas podem gerar constrangimento ao idoso. Na dúvida, aposte na tradicional garrafa de café.
Planejamento do atendimento
O atendimento também deve ser muito bem pensado. Portanto, antes de marcar a consulta, faça uma pré-triagem ao telefone. É necessário compreender se o paciente tem comorbidades que podem interferir nos procedimentos.
Por exemplo, pacientes com diabetes devem ser atendidos em tempo curto e, preferencialmente, de manhã.
Aliás, em geral, os atendimentos para idosos devem durar menos tempo, já que a posição na cadeira pode gerar dores e desconforto no corpo.
Se o seu consultório atua apenas com idosos, nesse caso, planeje os horários de acordo com as necessidades provenientes de comorbidades.
Ações preventivas
As ações preventivas são essenciais para controlar o surgimento de algumas manifestações bucais e, por isso, é necessário que o cirurgião-dentista dê instruções claras e precisas ao paciente durante as consultas.
A distribuição de kits de higiene bucal é um bom começo para incentivar o paciente e garantir que ele use produtos de qualidade e que tenham eficácia. Ele deve conter escova, fio dental, escova interdental, soluções para bochecho e dentífricos fluoretados.
Outras ações que podem ser realizadas são as instruções para a saúde bucal e higienização de próteses, sensibilização para aprendizagem dos cuidados e inclusão de familiares e cuidadores para auxiliarem os idosos.
Principais doenças bucais em idosos
Segundo o artigo “Estratégias preventivas em odontogeriatria”, o envelhecimento modifica bioquimicamente a cavidade oral, o que contribui para o surgimento de algumas manifestações bucais, como halitose, saburra lingual, doenças periodontais e cáries.
No paciente idoso, um dos fatores que contribuem para o surgimento das cáries é a redução do fluxo salivar, que retém células epiteliais descamadas, restos alimentares e grande acúmulo de microrganismos.
A halitose e as doenças periodontais andam lado a lado, na maioria dos casos. A mesma bactéria que causa o primeiro quadro também pode estar presente na placa bacteriana lingual.
Os medicamentos utilizados a longo prazo também podem ter efeitos colaterais que refletem na boca por meio de xerostomia, alterações no paladar, estomatites e hiperplasia gengival. E, por isso, a avaliação multidisciplinar do paciente geriátrico é essencial: o contato com o médico que acompanha o idoso poderá explicar melhor a condição.
Além disso, conhecer a condição sistêmica do paciente é essencial, uma vez que muitos dos distúrbios podem atingir a cavidade oral, como o diabetes, que deixa os tecidos bucais edemaciados. Portanto, cabe ao cirurgião-dentista levantar esses pontos na anamnese e aprofundar os estudos nessas doenças.
Também é importante citar as próteses, muito comuns entre os pacientes idosos. O uso incorreto das próteses e a falta de higienização delas podem causar algumas manifestações e, portanto, é necessário indicar que, ao dormir, elas devem ser retiradas e ensinar a limpeza correta.
As lesões de mucosa, como hiperplasia fibrosa inflamatória, estomatites, candidíase e outras podem estar associadas ao uso da prótese.
Como podemos ver, atuar na área de odontogeriatria pode acontecer em diferentes espaços, mas, qualquer que seja, é necessário que o cirurgião-dentista seja um especialista no assunto, saiba lidar com pacientes idosos e esteja disposto a transformar o local de trabalho em um ambiente de acessibilidade.
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