A medicina tradicional chinesa, também conhecida como MTC, é um conjunto de procedimentos milenares que podem ser utilizados como tratamento complementar na área da saúde. Entre eles está a acupuntura, que faz uso de pequenas agulhas para aliviar dores e tratar questões emocionais.
Desde 2008, a utilização da acupuntura na odontologia é permitida pelo Conselho Federal (CFO), levando muitos cirurgiões-dentistas a investir nessa prática como tratamento complementar.
Para entender melhor para que serve a acupuntura e como ela pode ser utilizada em consultas odontológicas para melhorar os resultados, continue a leitura até o fim!
A história da acupuntura na odontologia
A acupuntura é uma prática tradicional de medicina chinesa, mas, nos países ocidentais, ela tornou-se popular desde os anos 1970. Segundo o artigo “Habilitação em acupuntura para cirurgiões-dentistas no Brasil”, a propagação do método se deu graças aos benefícios, como as propriedades anti-inflamatórias, ansiolíticas e ativadoras da função imunológica.
Apesar de existir há milhares de anos, a acupuntura viria a ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um método efetivo na medicina tradicional somente em 1979.
A partir de então, profissionais de odontologia começaram a pesquisar a eficácia desse método para diminuir as dores de seus pacientes durante tratamentos, conseguindo comprovar sua eficácia no ano de 2003, no congresso de Geneva da OMS.
No Brasil, a popularização dessa terapia na odontologia se deu com a resolução federal CFO-82/2008, que autoriza o uso de práticas integrativas, incluindo a acupuntura, por cirurgiões-dentistas para promover a saúde e o bem-estar bucal.
Na ocasião, o órgão declarou acreditar que a técnica milenar poderia oferecer mais oportunidades de trabalho para os cirurgiões-dentistas no âmbito público e privado, bem como novas opções de tratamento.
Conceitos de terapias complementares e práticas integrativas
Para profissionais que desejam atuar com a acupuntura, é interessante partir do ponto de que existem muitos conceitos sobre as práticas complementares e integrativas a serem compreendidos e que é comum haver dúvidas e confusões sobre cada um deles.
- Leia também — Odontologia forense: o que é e como atuar na área?
É necessário compreendê-los para evitar, inclusive, preconceitos com a prática, que podem surgir por parte de profissionais e pacientes. Ao saber diferenciar os conceitos, você terá mais argumentos para defender a inserção do tratamento quando oferecê-lo em consultório.
No total, são cinco conceitos importantes que você deve entender: medicina alternativa, medicina tradicional, terapias complementares, medicina integrativa e práticas integrativas e complementares. Vamos compreender melhor cada um.
Medicina alternativa
A medicina alternativa é um conjunto de práticas que visam substituir os tratamentos convencionais por aqueles que não têm qualquer embasamento científico. Portanto, é alvo de diversas críticas por parte da comunidade científica.
Medicina tradicional
Já a medicina tradicional é uma prática recomendada pela OMS, especialmente se tiver comprovação científica.
A organização define-a como “a soma total de conhecimento, habilidades e práticas baseadas nas teorias, crenças e experiências de diferentes culturas, explicáveis ou não, e usadas na manutenção de saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, tratamento ou melhoria de doenças físicas ou mentais”.
Segundo a portaria nº 971 do Ministério da Saúde, a OMS recomenda a acupuntura e explica que existem comprovações científicas sobre a prática e que ela pode ser benéfica para diversas áreas da saúde.
Terapias complementares
O termo terapias complementares é um dos mais utilizados ao redor do mundo e é referente a uma abordagem não-convencional que atua junto com a medicina convencional.
Medicina integrativa
A medicina integrativa vê o paciente como um todo e, portanto, está preocupada em cuidar de todos os aspectos, como físicos e psicológicos. Além disso, quem recebe os tratamentos também é mais ativo no processo.
A medicina integrativa trabalha de forma multidisciplinar, alinhada a outras práticas que podem ser medicinais tradicionais, uso de fitoterápicos, relaxamento, entre outros.
Práticas integrativas e complementares
De acordo com o Ministério da Saúde, “práticas integrativas e complementares (PICs) são tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças […]. Em alguns casos, pode ser utilizado como tratamentos paliativos”.
Portanto, a acupuntura, que pertence à medicina tradicional chinesa, deve ser encaixada dentro das PICs, que são oferecidas pelo próprio SUS e apoiadas pelo Ministério da Saúde.
Para saber mais, indicamos o podcast do Ministério da Saúde.
Acupuntura na odontologia: como aplicar
A acupuntura é uma prática que ainda pode assustar muitos pacientes, afinal, pensar em agulhas é sempre algo que gera algum desconforto. Portanto, essa PIC deve ser muito bem explicada e requer estudo por parte do profissional para compreender como aplicá-la e para quais tratamentos faz sentido.
Como funciona a acupuntura
Em linhas gerais, trata-se da aplicação de pequenas agulhas em pontos específicos do corpo (chamados de meridianos ou acupontos) para curar problemas tanto físicos quanto emocionais.
Os acupunturistas creem que o corpo é composto de energia, e que os meridianos são regiões com grande concentração energética. Se não estiverem em harmonia, esses pontos podem causar desequilíbrio, gerando sintomas, como dor, ansiedade e cansaço.
Há ainda outros tipos de acupuntura que são menos utilizados, como laseracupuntura, acupressão, moxibustão e auricular, que fazem uso de outros mecanismos para obter os mesmos resultados.
Para quais procedimentos pode ser utilizada?
Afinal, qual a função da acupuntura na odontologia? A resposta é que ela pode ser utilizada como complemento de diversos tratamentos e, inclusive, já há estudos que relatam essas experiências.
Antes de explicar o funcionamento, é importante reforçar que a acupuntura é uma terapia alternativa e complementar. Isso significa que ela não é obrigatória, e não substitui o tratamento comum, servindo como suporte.
A acupuntura poderá ser utilizada nos três estágios do tratamento, ou seja, antes, durante e depois. Em cada uma das situações, ela terá resultados diferentes.
Analgesia
Muitos cirurgiões-dentistas fazem uso desses métodos da medicina chinesa por suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, para melhorar seus resultados em consultório.
A analgesia por meio de acupuntura, por exemplo, funciona da seguinte maneira: a aplicação das agulhas provoca uma microinflamação, que desencadeia a produção de substâncias neurotransmissoras, como endorfinas, serotonina e norepinefrina. Dessa forma, há um bloqueio da dor no sistema nervoso, além do desenvolvimento de uma sensação de bem-estar.
Curiosamente, os pontos de acupuntura na odontologia não precisam estar na boca, uma vez que os meridianos do corpo são todos interligados. Além de regiões da face, os cirurgiões-dentistas inserem agulhas nos braços e pernas, e em regiões que estimulam órgãos e o sistema nervoso.
Dor orofacial
O estudo “Manejo da dor orofacial através do tratamento com acupuntura” explica que a PIC pode entrar como um método alternativo eficiente para aliar ao tratamento de disfunção temporomandibular (DTM).
A DTM é um espectro de problemas clínicos articulares e musculares da região orofacial e, como sintomas, o paciente sente dor, dificuldades em movimentar a musculatura e funções limitadas.
Para esses casos, o artigo explica que o ideal é o uso de terapias reversíveis e não invasivas, como a acupuntura.
A PIC auxilia na recuperação das funções motoras, o que é essencial para a DTM, que costuma paralisar o rosto do paciente.
No estudo, foi constatado que o paciente com DTM já havia feito uso de medicamentos para a dor, entretanto, não surtiu o efeito esperado. De acordo com a pesquisa, após a aplicação da acupuntura, os sintomas foram amenizados instantaneamente, sendo bastante benéfico à pessoa atendida.
Dor do tinido
A dor do tinido também pode estar associada à DTM, assim como à dor na musculatura mastigatória. Em ambos os casos, o cirurgião-dentista pode recorrer à acupuntura. Entretanto, é importante lembrar que o tratamento deve ser personalizado de acordo com a necessidade de cada paciente.
Segundo a pesquisa “Acupuntura no manuseio da dor orofacial e do tinido”, a paciente atendida no estudo teve melhora na dor após a segunda sessão. Também foi observada uma melhora no relaxamento da musculatura e diminuição do tinido.
Para este caso clínico, os resultados foram positivos e, ao fim das sessões, a paciente não sentia mais tinido. A musculatura da mastigação, da orelha média e dos músculos elevadores do palato apresentaram relaxamento e, consequentemente, a redução da dor.
Bruxismo
Os tratamentos para bruxismo podem ser variados, de acordo com a etiologia. Entre os procedimentos, a acupuntura pode entrar como método alternativo, como explica o estudo “Tratamento da dor orofacial através da acupuntura em pacientes com bruxismo”.
O artigo explica que a acupuntura é uma PIC bastante eficiente para o tratamento das dores geradas pelo bruxismo e que, cada vez mais, existem evidências científicas que comprovam isso.
Além das manifestações bucais citadas e analgesia, que é o método mais difundido, a acupuntura pode ser utilizada na recuperação de funções motoras, em casos de paralisias faciais, controle de reflexos, como ânsia e vômito, e na diminuição da ansiedade e de fobias.
No vídeo do canal Empreender na Odonto, você pode conferir uma entrevista com o Dr. Mauro Tokura, que explica a sua experiência com a aplicação da acupuntura.
Eficácia da acupuntura
Este é um ponto que gera muitos debates. Enquanto para muitos pesquisadores esse método é pseudocientífico, há uma série de estudos realizados com pacientes que comprovam sua eficácia.
A verdade é que não há uma resposta exata para essa questão, e ela pode variar de acordo com o ponto de vista do profissional. Se você tem vontade de trabalhar com essa especialidade, o ideal é que faça algumas sessões para entender sobre seu funcionamento.
Quem pode trabalhar com acupuntura na odontologia
A acupuntura é uma especialização em odontologia, por isso é necessário realizar um curso preparatório para utilizar essa técnica. Se você tem interesse, procure uma instituição chancelada pelo Conselho Regional do seu Estado.
Por ser uma novidade em odontologia, o número de profissionais trabalhando com essa técnica ainda é pequeno. Em São Paulo, estado com maior número de adeptos, há cerca de 300 cirurgiões-dentistas acupunturistas.
Também é importante ressaltar que, por ser uma novidade, ainda não há alta procura por esse tratamento alternativo por parte dos pacientes. Dependendo da sua cidade ou região, a acupuntura pode não ser a melhor especialidade para se trabalhar.
Onde se especializar?
É importante citar que a acupuntura deve ser algo estudado a fundo, especialmente porque será aplicada aliada à odontologia. Como já dissemos, é necessário buscar por uma instituição apta e que tenha autoridade no assunto.
Uma das instituições que vale a pena conhecer é a Unicamp, que oferece um curso de extensão com 20 vagas.
A USP também oferece a especialização em acupuntura, voltada para profissionais da saúde. As vagas são limitadas para apenas 12 pessoas.
O artigo “Habilitação em acupuntura para cirurgiões-dentistas no Brasil” explica que no cenário brasileiro ainda há falta de cursos de acupuntura para que profissionais possam se aprofundar, sobretudo nas regiões norte, nordeste e centro-oeste. Dessa forma, a habilitação para atuar com o método fica centrada no sul e sudeste.
A utilização de acupuntura na odontologia é algo recente, apesar de ser uma técnica criada há milhares de anos. Hoje, é apontada por muitos profissionais como uma excelente forma de melhorar os resultados em consultório.
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