Como profissionais de saúde, os dentistas desempenham papel importante na prestação de cuidados acessíveis e inclusivos a pacientes com deficiência. Entre eles, estão os que possuem síndrome de Down, e a odontologia elenca detalhes a se observar durante o atendimento.
A síndrome de Down é uma condição genética que afeta cerca de 300 mil pessoas no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses pacientes podem enfrentar desafios específicos quando se trata de atendimento odontológico.
Portanto, é fundamental compreender as características físicas, cognitivas e de saúde bucal associadas à síndrome, a fim de proporcionar um atendimento adequado e personalizado. O profissional deve, ainda, garantir conforto aos pacientes e passar confiança ao longo das visitas odontológicas.
Continue a leitura para entender um pouco mais sobre essa deficiência congênita e como o dentista deve atender pessoas com síndrome de Down!
Compreendendo a síndrome de Down
A síndrome de Down é uma condição genética que ocorre quando há uma cópia extra do cromossomo 21. Ela afeta o desenvolvimento físico e cognitivo dos indivíduos.
Essa condição geralmente resulta em características corporais distintas, como olhos amendoados, achatamento do rosto, mãos curtas e língua maior.
Além disso, as pessoas podem ter algumas dificuldades de saúde associadas, como problemas cardíacos e na tireoide, maior suscetibilidade a infecções, assim como visão e audição comprometidas.
Tipos de síndrome de Down
A síndrome de Down pode ocorrer de três formas. É importante que os profissionais de saúde compreendam as diferenças entre esses tipos, pois podem afetar a gravidade e a prevalência de problemas de saúde, incluindo dentários. Veja detalhes na sequência.
Trissomia 21
A forma mais comum é a trissomia do cromossomo 21, que representa cerca de 95% dos casos. Nessa condição, ocorre a presença de um cromossomo 21 adicional em todas as células do corpo.
Mosaico
No caso do mosaico, há uma combinação de células com o cromossomo 21 adicional e células com o número usual de cromossomos.
Translocação
A translocação ocorre quando apenas parte do cromossomo 21 extra é anexada a outro cromossomo.
Impacto da síndrome de Down na odontologia
A síndrome de Down pode afetar a saúde bucal dos pacientes de várias maneiras. Eles tendem a ter maior propensão a cáries dentárias e doenças periodontais do que outras pessoas.
De acordo com artigo publicado na Revista Odontologia Clínico-Científica, isso ocorre por conta do sistema imunológico que permite maior grau de crescimento de patógenos responsáveis pelas doenças.
A progressão é mais rápida e mais extensa, afetando tanto os dentes de leite, com queda precoce, quanto os permanentes, com reabsorção óssea severa, mobilidade dentária e presença de cálculo, entre outras situações.
Alterações bucais
Pessoas com síndrome de Down apresentam alterações bucais que o dentista deve considerar durante o exame clínico. Entre elas estão:
- Musculatura perioral hipotônica;
- Respiração bucal crônica;
- Mucosa da boca ressecada;
- Lábios fissurados e secos;
- Palato duro menor e de forma ogival;
- Úvula bífida;
- Fenda palatina;
- Mordida cruzada anterior e posterior;
- Posição da língua mais anteriorizada.
Os pacientes podem apresentar, ainda, bruxismo, ter a língua maior (macroglossia), possuir boca seca, entre outros pontos apresentados no estudo.
Atendimento
Pessoas com síndrome de Down também podem ter mais adversidades em lidar com o atendimento odontológico, especialmente se tiverem dificuldades comportamentais ou sensoriais.
Os dentistas devem estar cientes dessas questões e preparados para enfrentá-las ao atender pacientes com a doença. Existe, inclusive, especialização em odontologia sobre atendimento a pessoas com necessidades especiais.
Abordagem do paciente
Uma das coisas mais importantes que os profissionais de saúde podem fazer é criar um ambiente acolhedor e inclusivo. Deve haver também preparação para o atendimento aos pacientes com síndrome de Down.
Por isso, é preciso levar em consideração alguns pontos chave para garantir um tratamento eficaz e confortável. Confira algumas ações na sequência.
Conhecimento
Os dentistas devem ter bom entendimento das características gerais, de saúde bucal e aspectos comportamentais das pessoas com síndrome de Down. Isso ajuda a adaptar a abordagem e fornecer um cuidado adequado.
Comunicação
Comunicação eficaz é crucial. Os dentistas devem usar linguagem de fácil compreensão, instruções simples e recursos visuais quando necessário. É importante ser calmo e se permitir um tempo extra para ouvir e compreender os pacientes. No caso de crianças, conversar com os pais ou responsáveis também é recomendado.
Ambiente
Criar um ambiente acolhedor e sensorialmente amigável pode ajudar a reduzir a ansiedade para os pacientes com síndrome de Down. Os dentistas devem considerar a redução de ruídos, fornecer distrações calmantes e usar pistas visuais para orientá-los durante o tratamento.
Adaptação
Os equipamentos e procedimentos odontológicos podem precisar ser adaptados para atender às necessidades únicas dos pacientes com síndrome de Down. Os dentistas devem modificar técnicas e posicionamentos para garantir o conforto do atendido e considerar sedação ou anestesia, se necessário.
É importante que os profissionais estejam atualizados sobre pesquisas e diretrizes mais recentes para fornecer cuidados odontológicos aos pacientes com síndrome de Down.
A educação continuada e o treinamento especializado no tratamento de pessoas com deficiência também podem ser benéficos.
Lembrando que esta é uma visão geral e casos individuais podem exigir considerações adicionais. É sempre melhor consultar um dentista especialista em síndrome de Down, que tenha experiência, para obter aconselhamento personalizado.
Como construir confiança com o paciente?
Construir um vínculo de confiança com o paciente é fundamental para garantir uma experiência positiva no atendimento para pessoas com síndrome de Down na odontologia. O profissional pode realizar algumas ações, entre elas:
- Estabelecer contato visual para gerar confiança.
- Abordar de forma calma e gentil, transmitindo segurança e tranquilidade.
- Usar livros infantis para reduzir a ansiedade e o medo em relação ao tratamento odontológico.
- Informar-se sobre interesses, hobbies e gostos.
- Recompensar o paciente com prêmios pode ajudar a estabelecer uma experiência e vivências positivas.
A utilização de estratégias para a promoção de experiências positivas na consulta odontológica de pacientes com síndrome de Down contribui para o profissionalismo da equipe, cria vínculo com a família da pessoa atendida e torna o tratamento mais agradável para todos os envolvidos.
Trabalho com equipe multidisciplinar
Trabalhar com uma equipe multidisciplinar pode beneficiar os pacientes, permitindo que os profissionais de saúde coordenem esforços e ofereçam atendimento abrangente.
Isso pode envolver a colaboração com fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e professores de educação especial. A troca de informações e o trabalho em equipe ajudam a garantir que os pacientes recebam a atenção que necessitam.
Atender pacientes na odontologia com síndrome de Down pode ser desafiador, mas ao adotar as melhores práticas os profissionais de saúde terão a chance de contribuir para proporcionar mais qualidade de vida e saúde bucal para as pessoas.
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Referências bibliográficas
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