Durante a anamnese, o cirurgião-dentista pode identificar problemas nos pacientes que só podem ser compreendidos a partir de uma análise de exames laboratoriais.
Segundo a portaria nº 397/2002, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) estabelece a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), permitindo ao profissional da odontologia que solicite exames complementares, sejam laboratoriais ou de risco cirúrgico.
A capacidade de interpretação dos materiais torna-se fundamental para que se possa entender qual o diagnóstico sobre as questões do paciente, além de direcionar quais tratamentos são necessários.
Continue a leitura e veja como o cirurgião-dentista deve fazer a leitura dos dados de exames laboratoriais!
Quais exames o dentista pode pedir?
Entre os exames que o profissional pode solicitar aos pacientes para averiguar a situação da saúde estão:
- Exames de sangue e de urina;
- Risco cirúrgico;
- Radiografias;
- Tomografias;
- Ressonâncias magnéticas.
O respaldo é dado pela mesma portaria do MTE e foi retificado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2007, na súmula normativa nº 11.
Importância dos exames laboratoriais
A análise de exames laboratoriais é fundamental para a compreensão das questões que envolvem a saúde bucal do paciente. Não basta apenas ler o material e comparar com os valores de referência. O cirurgião-dentista precisa entender o que significam as alterações encontradas.
Sabendo quais os fatores de risco, é possível fazer a prevenção durante o planejamento e a realização dos procedimentos odontológicos.
Hemograma
O hemograma é um dos exames laboratoriais mais importantes de avaliação para o dentista, pois traz várias informações diferentes. Se algum valor estiver anormal, é possível suspender uma indicação momentaneamente, executando procedimentos apenas em outro momento.
De acordo com artigo “Bases para interpretação de exames laboratoriais na prática odontológica”, o profissional deve levar em consideração as seguintes condições para solicitar o exame:
- Complexidade cirúrgica;
- Intervenções odontológicas de médio e grande porte;
- Suspeita de anemia ou policitemia;
- Presença de doenças crônicas;
- Realização de radioterapia ou quimioterapia recentes;
- Uso de anticoagulantes;
- Presença de infecção;
- Paciente com mais de 60 anos;
- Crianças pálidas e hipoativas;
- Quando há déficit de peso na idade.
Assim, o cirurgião-dentista precisa fazer a análise do hemograma completo a partir dos itens que o compõem. Veja, na sequência, o que considerar em cada caso.
Eritrograma
O eritrograma aborda as alterações nos glóbulos vermelhos (eritrócitos), a partir da avaliação de algumas variáveis. Confira!
Contagem de eritrócitos (E)
As hemácias são responsáveis por carregar oxigênio dos alvéolos pulmonares para os tecidos no corpo, removendo o gás carbônico. O exame detecta a quantidade em um microlitro.
Dosagem de hemoglobina (Hgb)
A hemoglobina é uma molécula de proteína que está presente nos eritrócitos, onde há o ferro que permite o trabalho da célula. A baixa dosagem pode ser um dos indicativos de anemia.
- Leia também — O que inserir e como fazer atestado odontológico?
Valor do hematócrito (Hct)
Este parâmetro representa o percentual de sangue ocupado pelos glóbulos vermelhos. Em caso de anemia, menor vai ser a proporção da parte líquida em relação à sólida do sangue.
Os três primeiros itens do eritrograma é que vão auxiliar no diagnóstico de uma possível falta (anemia) ou excesso (policitemia) de hemáceas no sangue.
Volume corpuscular médio (VCM)
Essa parte do exame indica o tamanho dos glóbulos vermelhos, o que pode auxiliar a diferenciar o tipo de anemia do paciente, seja por falta de uma ou outra substância no corpo.
Nível e concentração de hemoglobina corpuscular média (HCM)
O nível demonstra o peso da hemoglobina dentro das hemácias. A concentração (CHCM) indica quase a mesma coisa, mas, de forma geral, evidenciando se tem pouca ou muita.
O VCM, o HCM e o CHCM facilitam a diferenciação da anemia, sendo mais importantes para a medicina do que para a odontologia em si.
RDW
Outro parâmetro visto no eritrograma completo é o Red Cell Distribution Width (RDW), que indica a presença de glóbulos vermelhos de tamanhos diferentes na mesma amostra.
Eritrograma na odontologia
De forma geral, a análise principal para o cirurgião-dentista se dá para E, Hgb e Hct. Se estiverem baixos, há indícios de anemia; elevados, policitemia. São esses os dados que guiam o profissional para execução ou não de certo procedimento cirúrgico.
Os outros parâmetros auxiliam em interpretação complementar, sem definir ou não os tratamentos dentários.
Série plaquetária
A série plaquetária se refere à contagem do número de plaquetas, além do estudo de sua morfologia. Se a quantidade for menor do que o valor de referência, pode haver sangramento no período de cirurgia e depois; se for maior, há chance de trombose.
O parâmetro deve ser solicitado pelo dentista quando há possibilidade de ocorrência de problemas de coagulação. Caso a pessoa apresente estado anêmico, há risco de infecção local, problemas de cicatrização, além de causar hemorragia mais abundante durante a cirurgia ou depois.
Leucograma
O leucograma é um parâmetro que analisa a quantidade e a qualidade das células de defesa do organismo, também chamadas de leucócitos ou glóbulos brancos.
Se o número total for elevado, o indivíduo está com alguma infecção. Ao passo que, se tiver poucas células, pode evidenciar um efeito colateral ao uso de certos medicamentos.
Qualitativamente, o leucograma avalia a distribuição e morfologia dos leucócitos, apresentando características mais específicas sobre as células. Há cinco tipos:
- Granulócitos;
- Neutrófilos;
- Eosinófilos;
- Basófilos;
- Agranulócitos: linfócitos e monócitos.
Na análise de exames laboratoriais, o cirurgião-dentista deve avaliar a quantidade total e, especificamente, de neutrófilos (combatentes de bactérias). O prosseguimento com a cirurgia deve ser evitado se o segundo estiver baixo por conta do risco de infecção e baixa imunidade do paciente.
Coagulograma
O coagulograma é outro tipo de exame laboratorial que pode definir a realização de um procedimento ou não. Serve principalmente para investigar a reação do corpo quanto a coagulação, sangramentos espontâneos ou hemorragias em vasos sanguíneos (petéquia).
O cirurgião-dentista também pode solicitar o exame a partir de perguntas sobre distúrbios hemorrágicos durante a anamnese, como equimoses faciais, sangramentos excessivos em menstruação, pelo nariz ou até mesmo inusitados após cirurgias, além de possíveis problemas de coagulação.
O histórico familiar e os medicamentos utilizados também devem ser questionados para a execução de um planejamento que não traga riscos ao paciente.
Confira quais são os indicadores realizados dentro do exame.
Tempo de sangramento (TS)
Após realizar uma incisão cutânea, o exame identifica o tempo de formação do tampão hemostático para analisar se a quantidade de plaquetas é o suficiente, além de verificar se estão desempenhando sua função de maneira adequada.
Tempo de coagulação (TC)
O tempo de coagulação é um parâmetro com reprodutibilidade muito variável. Por isso, os resultados do Tempo de protrombina parcial ativada (TTPa) são considerados mais fidedignos para avaliar a reação do organismo do paciente.
Tempo de protrombina (TP)
O TP afere em quanto tempo o plasma forma o coágulo. Se demorar demais, pode indicar possíveis problemas no pós-operatório ou hemorragias graves.
Tempo de protrombina parcial ativada (TTPa)
O TTPa é a parte que verifica a formação do coágulo de fibrina, sendo mais confiável que o TC. Esse indicador também não deve demorar mais do que o valor de referência, caso contrário pode ser um alerta para anormalidades.
Índice de normalização internacional (INR)
O INR representa um resultado do teste completo. Assim, se os valores estiverem dentro dos níveis ideais, mesmo para pacientes que fazem uso de anticoagulantes orais, a cirurgia pode ser realizada. Entretanto, quando o risco é maior, a realização do tratamento deve ser avaliada pelo profissional.
É fundamental que o dentista faça a requisição de exames laboratoriais para que haja um ótimo planejamento cirúrgico, sem riscos à saúde do paciente. Ao fazer a análise, há a possibilidade da realização de medidas preventivas para evitar problemas durante e depois do procedimento.
Este conteúdo foi baseado em artigo sobre interpretação de exames laboratoriais na odontologia. No estudo, o profissional também encontra os valores de referência para situações odontológicas, além de mais explicações sobre cada um dos exames.
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Referência bibliográfica
AMARAL, Cristhiane et al. Bases para interpretação de exames laboratoriais na prática odontológica. Jornal Health Science [internet], v. 16, n. 3, 2014. Disponível em: https://journalhealthscience.pgsskroton.com.br/article/view/459.