Odontologia sustentável: o que você pode fazer pelo mundo?

Ilustração digital de odontologia sustentável

Você já se perguntou sobre como tornar a odontologia sustentável? Nos últimos tempos, pensar em formas de preservar o meio ambiente tem sido uma pauta urgente, especialmente por estarmos presenciando uma série de impactos ambientais negativos e preocupantes, que nos alertam sobre a necessidade de falar sobre o assunto.

A odontologia, apesar de essencial para o bem-estar do ser humano, é uma área que, assim como outras da saúde, produz uma quantidade considerável de resíduos sólidos, que incluem plástico, papel, vidro, sem falar dos compostos químicos, como mercúrio, prata e outros.

Ao longo deste texto, veremos como o lixo produzido em consultório é prejudicial e daremos dicas de como você pode contornar esse cenário e tornar sua clínica mais sustentável. Boa leitura!

Resíduos sólidos ao longo da história

De acordo com o artigo “O impacto dos resíduos de serviço de saúde sobre o homem e o meio ambiente”, podemos afirmar que as preocupações com os resíduos sólidos começaram com os efeitos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), junto com a rápida urbanização e industrialização.

Foi no período pós-guerra que surgiram grandes tecnologias e invenções que, até então, não faziam parte do cotidiano da sociedade, como os descartáveis, que marcaram a ideia de praticidade.

Esses acontecimentos trouxeram ao mundo materiais que demoram anos para se decompor, como o plástico, que estima-se que precisa de 450 anos — inclusive, acredita-se que ainda existem os primeiros itens feitos desse composto.

O artigo cita também o náilon, que se decompõe em 30 anos; o alumínio, de 200 a 500 anos; o vidro, de 5 mil anos, e a borracha, que sequer tem tempo estimado.

Agora, vamos trazer isso para os dias atuais. De acordo com o IBGE:

  • Por ano, estima-se uma produção de 400 milhões de toneladas de lixo em todo o mundo;
  • No Brasil, diariamente, são geradas cerca de 125 mil toneladas de resíduos;
  • Cerca de 70% do lixo produzido em cidades com mais de 200 mil habitantes vão parar em lixões;
  • Quase metade dos municípios brasileiros não têm serviço de esgoto sanitário.
Montanha de lixo
Os resíduos sólidos são um problema sério ao meio ambiente.

E qual a realidade dos resíduos de serviços de saúde (RSS)?

Ainda de acordo com o artigo já citado, os RSS são compostos pelo produto residual não utilizável, fruto da atividade de diversos serviços de saúde, que vão desde os hospitais aos atendimentos domiciliares.

Os RSS incluem fluídos orgânicos, produtos químicos e outros líquidos, que podem ser chamados de efluentes líquidos dos serviços de saúde. É necessário destacar que esses resíduos são potenciais disseminadores de diversos microrganismos patogênicos e, por isso, são extremamente infectantes.

Os RSS, segundo o artigo, equivalem a 1% de todo o lixo produzido por uma cidade. Na capital paulista, por exemplo, de 12 mil toneladas, 120 toneladas são provenientes da área da saúde. Entretanto, infelizmente, ainda há poucos dados sobre esse assunto.

RSS na odontologia

O estudo “Ações sustentáveis e gestão de resíduos em odontologia” explica que os RSS gerados por consultórios são muito semelhantes aos da área médica, entretanto, há procedimentos odontológicos que estão relacionados a materiais extremamente tóxicos, como metais pesados e combinações químicas que, além de causar danos ambientais, afetam a saúde das pessoas.

Segundo o artigo, apesar dos materiais contaminados em resíduos odontológicos serem em pequena quantidade, há riscos de infecção cruzada e, quando são mal gerenciados, afetam o meio ambiente.

Os impactos dos RSS odontológico podem atingir as populações que vivem próximas às unidades de tratamento e destinação de resíduos, que, segundo o artigo “O impacto dos resíduos de serviço de saúde sobre o homem e o meio ambiente”, convivem com mau cheiro, vetores transmissores de doenças em animais, fumaça e, até mesmo, a contaminação de poços de água.

A população geral das cidades, especialmente daquelas que não contam com um bom serviço de coleta, pode ser mais prejudicada, impactando até mesmo a carne de animais criados em vazadouros.

Classificação dos resíduos gerados pelo consultório odontológico

O artigo “Ações sustentáveis e gestão de resíduos em odontologia” explica que os resíduos gerados pelo consultório odontológico podem ser classificados em quatro, como veremos melhor em seguida.

odontologia sustentável
Entender a classificação dos resíduos é de suma importância.

Biológicos

Resíduos biológicos são aqueles que contêm produtos biológicos, ou seja, são aqueles contaminados por sangue e outros fluidos corporais e que podem trazer riscos de infecção.

Eles podem estar dispostos na forma livre, ou seja, em luvas, máscaras, óculos e outros descartáveis, em peças anatômicas (tecidos e órgãos), resíduos provenientes de atividades cirúrgicas, de diagnósticos e outros.

Além de máscaras, luvas e óculos, outros materiais que são exemplos de resíduos biológicos são seringas, agulhas e gazes.

Químicos

Já os químicos, de nome autoexplicativo, são aqueles que têm substâncias químicas e impactam tanto o meio ambiente quanto a saúde da população.

Exemplos desse tipo de resíduos são os produtos de limpeza, materiais de laboratório, líquidos reveladores e fixadores, fluidos de amálgama e radiografia, entre outros.

Perfurocortantes ou escarificantes

Segundo a Fiocruz, os resíduos dessa categoria são compostos por objetos e instrumentos cortantes ou que podem perfurar. São bisturis, agulhas, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas etc.

Resíduos comuns

Por último, temos os comuns. Semelhantes àqueles gerados em ambientes domiciliares, esses resíduos não são de risco para a saúde da população e, em geral, não causam grandes impactos ambientais.

Entretanto, é preciso estar atento: esse grupo é composto por materiais recicláveis e não recicláveis. É essencial que eles sejam descartados corretamente, assim como utilizados com consciência e moderação, já que esse é um dos princípios da odontologia sustentável, como veremos adiante.

Como a odontologia pode ser mais sustentável?

A sustentabilidade na odontologia ainda é um assunto desafiador, como podemos ver com ajuda dos conceitos apresentados anteriormente. Afinal, sabemos que o uso dos materiais faz parte da rotina do consultório e são cruciais. Entretanto, é necessário estudar alternativas para um consumo consciente e descarte correto desses produtos.

O estudo “O impacto dos resíduos de serviço de saúde sobre o homem e o meio ambiente” explica que é necessário ter em mente cinco princípios para minimizar a problemática da geração de lixo. São eles:

  • minimização da geração de resíduos;
  • maximização da reutilização e reciclagem ambientalmente adequadas;
  • seleção de processos industriais que gerem materiais menos agressivos;
  • adoção de formas de destinação final ambientalmente adequadas;
  • expansão dos serviços relacionados ao lixo por toda a população.
odontologia sustentável
O descarte correto é essencial para a reciclagem.

Pensando nisso, deixamos algumas dicas de como planejar um consultório odontológico nos moldes da sustentabilidade.

1. Conheça melhor os produtos que são usados no consultório

Conhecer bem as marcas e os produtos que você compra para utilizar no consultório é essencial para tornar o seu espaço mais ecológico. Desde os itens que são utilizados em procedimentos até a decoração da sala de espera, é crucial saber a origem de cada coisa.

Esse cuidado está muito relacionado à minimização da geração de resíduos, que nada mais é que a busca pela diminuição da geração de lixo nos processos de produção, ou seja, uma preocupação maior com a matéria-prima utilizada, a procura por tecnologias verdes e limpas, embalagens sustentáveis etc.

O objetivo é que, após o uso, esses produtos possam ser descartados de forma que gerem o menor lixo possível e sejam menos agressivos para o meio ambiente.

O conceito de minimização parte do princípio da responsabilidade do produtor sobre o impacto do produto.

Por isso, apesar das marcas precisarem assumir a responsabilidade pela produção dos produtos, é importante que você tenha o interesse de ser mais seletivo na hora de adquirir o estoque do seu consultório, comprar itens de papelaria ou, até mesmo, produtos utilizados na limpeza.

Para buscar essas informações, você pode enviar perguntas ao SAC da empresa, olhar o site e redes sociais, pois eles podem informar sobre esse assunto.

2. Separe os materiais ao fazer o descarte

Você sabia que o cenário de reciclagem no Brasil é bastante preocupante? Infelizmente, ele enfrenta uma série de problemas. Mesmo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos existindo há 11 anos, o país encontra os seus obstáculos quando o assunto é um descarte mais qualificado.

O Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico no mundo, com 11,3 milhões de toneladas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia. Desse total, mais de 10,3 milhões de toneladas foram coletadas (91%), mas apenas 145 mil toneladas (1,28%) são efetivamente recicladas.

Diversos produtos de plástico reunidos. Entre eles canudos, talheres, copos etc.
A reciclagem deve fazer parte da rotina do consultório.

A maioria dos municípios que faz algum tipo de coleta seletiva está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Em contraste, o Centro-Oeste tem menos da metade de cidades que reciclam. A população brasileira atendida pela coleta é o equivalente a 17%.

Outros problemas enfrentados no Brasil estão relacionados à falta de conhecimento por parte da população sobre reciclagem: em 2018, 66% sabiam pouco ou nada sobre o assunto, de acordo com pesquisa feita pelo Ibope.

Além disso, há o próprio desinteresse político e industrial pelo assunto, o que contribui para que o plástico seja tão consumido.

Apesar de todos os obstáculos encontrados no país, é de suma importância que cirurgiões-dentistas fiquem atentos ao assunto e preocupem-se em incluir o hábito de reciclar na rotina do consultório.

O primeiro passo é informar-se para descartar os resíduos corretamente. Como já dissemos, um dos grandes problemas de reciclar é a falta de conhecimento sobre o tema, portanto, é crucial buscar entender melhor como isso funciona.

Para te ajudar, deixamos o vídeo do canal pensandoaocontrario, em que você irá aprender a organizar corretamente os resíduos.

Em segundo, busque fazer um treinamento com toda a equipe para que cada colaborador saiba identificar o que é reciclável e possa separar esse resíduo de forma correta, como explica o vídeo acima.

3. Evite o uso de impressos e dê preferência ao digital

Hoje em dia, não há mais desculpas para manter tudo no papel, não é mesmo? Com a tecnologia, é possível organizar toda a documentação odontológica, pastas, agenda e outras informações importantes em softwares.

Além de eliminar a bagunça e o acúmulo de papel no consultório, você está ajudando o meio ambiente com a redução de resíduos.

Se for usar papel, tente aproveitar ao máximo o espaço em branco, imprimindo frente e verso. Se for possível, reutilize o papel como rascunho. E, quando não houver mais uso, destine tudo para a reciclagem. Não se esqueça de optar por papel reciclado quando for comprar.

4. Dê preferência para aparelhos mais econômicos

Se há algo que não falta em um consultório odontológico são aparelhos eletrônicos. Temos os computadores da recepção, as autoclaves, geladeira, ar-condicionado e por aí vai. Não há dúvidas de que todos eles são indispensáveis e, por isso, ao comprá-los, certifique-se de que
não consomem tanta energia.

Grande parte dos aparelhos novos já chegam com o propósito de ter um consumo mais baixo, por isso leia sempre atentamente a etiqueta com essas informações.

Em relação àqueles que são utilizados na odontologia, antes de comprar, converse com o fornecedor e busque conhecer essas especificidades. Dessa forma, você ajuda o meio ambiente e o seu bolso.

5. Reduza o consumo de água

Reduzir o consumo de água é muito mais do que apenas fechar torneiras. Dentro do consultório, na hora de fazer os procedimentos, o cirurgião-dentista também pode (e deve) ter alguns cuidados, que são:

  • Manter a água da cuspideira fechada enquanto não estiver utilizando;
  • Usar de forma consciente sugadores e outros produtos que geram vácuo, já que utilizam água da rede;
  • Na hora de limpar os instrumentos, feche a torneira e abra-a só quando necessário;
  • Mantenha banheiros, pias e outras torneiras sempre com a manutenção em dia;
  • Troque descargas e torneiras que prejudicam a economia.

6. Tenha cuidado com os resíduos radiológicos

Pesquisa feita em Pelotas (RS) com cirurgiões-dentistas mostrou que 35% dos participantes já descartaram o revelador e o fixador das radiografias em esgoto comum sem antes neutralizá-los, enquanto 37,5% não separaram os componentes do filme.

Se dentro do seu consultório ainda são utilizados os métodos convencionais de radiografia, é importante tomar cuidado com o descarte de todos os componentes do filme, assim como dos efluentes.

Por serem prejudiciais para o meio ambiente, é crucial haver uma gestão e reciclagem desses itens de forma correta.

A pesquisa feita em Pelotas explica que a película radiográfica é composta por filme, lâmina de chumbo, papel preto e envelope de plástico. Enquanto filme contém base de poliéster com cobertura em um ou dois dos lados com gelatina de sais halogenados de prata.

Devido à composição, esses resíduos são considerados químicos que afetam a população e o meio ambiente. Por isso, sempre atente-se para destinar todo o lixo produzido com radiografia a empresas especializadas em lidar com eles.

Já os efluentes são altamente tóxicos e, portanto, não devem, em hipótese alguma, ser descartados em esgoto comum, uma vez que são compostos por quinona, prata, hidroquinona, tiossulfato de sódio, sulfito de sódio, ácido bórico, cianeto, cloreto, ferro, fósforo total e outros.

A pesquisa informa que “as soluções fixadoras usadas devem, de acordo com a RDC nº 306/04 da Anvisa, ser submetidas a processo de recuperação da prata ou serem acondicionadas e identificadas em frascos de até dois litros compatíveis com o líquido armazenado, resistentes, rígidos e estanques, com tampa rosqueada e vedante. Esses recipientes devem ser identificados com o símbolo de risco associado conforme a NBR 7.500 e encaminhados ao aterro sanitário industrial para resíduos perigosos ou ser submetidos a tratamento de acordo com as orientações do órgão local do meio ambiente, em instalações licenciadas para esse fim”.

Como podemos ver ao longo do texto, a odontologia sustentável pode, de fato, ser uma realidade. Mas, para isso, é necessário que toda a clínica abrace essa causa e seja devidamente informada, já que a falta de conhecimento sobre o assunto pode criar um efeito rebote.

Além dessas dicas, indicamos que você acesse o nosso blog com mais conteúdos sobre a odontologia!

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